Meditações Sobre o Escorpião e Outras Prosas

16.00

Sergio Solmi

Barco Bêbado

2022 | 113 pp.
«Como foi que mais tarde vim a amar as imagens belas, as estátuas, os monumentos onde o pensamento parecia ter conseguido reter até o seu acento, a sua flexão mais volúvel e secreta? As Idades, que dormiam absortas num espaço seu, imaterial e sumptuoso, a um primeiro entreabrir-se da memória recomeçavam a florir. A obra girava em torno do fulcro da sua existência renascida, vivia no esforço dos braços que a reerguiam uma vez mais à altura dos olhos, alada e respirante como uma criatura mortal. Colhendo a certeza inicial, a pulsação informe de onde brotara, o meu pensamento, sustido pelas linhas, iluminado pelas cores, tornava-se, ao segui-la, mais rigoroso e flexível do que uma música. E, chegado aos confins da criação, à extremidade do círculo encantado, o hálito destrutivo da vida surpreendia-me juntamente com um amargo sentimento do nada, quase um fino e orgulhoso temor de ter dominado o tempo, sem que ele se vingasse.»