Sandro Botticelli – o Nascimento de Vénus e a Primavera

14.00

Aby Warburg

KKYM

2011 | 9789899768420 | 128 pp.
A primeira obra de Aby Warburg que se apresenta em português é também o seu primeiro estudo, dedicado a duas pinturas de Botticelli, o Nascimento de Vénus e a Primavera. A escolha destas duas obras do Renascimento correspondeu, no ambiente intelectual e cultural de finais do século XIX, a uma intenção polémica dirigida contra as concepções estetizantes, em grande parte inspiradas pela arte pré-rafaelita e pelo gosto dominante da época. O desafio de Warburg reconhece-se no modo como constrói uma inédita proposta interpretativa, perseguindo o fio e a meada das relações existentes entre as obras e as fontes literárias e artísticas da Antiguidade (Ovídio, Claudiano, um krater, um fragmento da arte tumular romana, entre outras), as artes, poética e figurativa, do Renascimento (Poliziano, Agostino di Duccio, Donatello), temas que são objecto de elaboração teórica (a representação do movimento, como Alberti recomenda) e, ainda, aspectos da vida coeva às obras, numa importante alusão a Burckhardt, quando narra o episódio de Simonetta Vespucci e Juliano de Médici. À semelhança do que acontece com a Giostra de Poliziano, que simultaneamente celebra o torneio de Janeiro de 1475 e recupera referentes Antigos, também o retrato de Simonetta é idealizado como sendo o de uma ninfa, em parte Antiga em parte Renascentista. Estas distintas relações convergem nas obras de Botticelli configurando-as como campos de materiais heterogéneos e tempos anacrónicos, como objectos particularmente contraditórios. Com efeito, a Warburg não escapa a tensão ínsita na contraposição entre a impassibilidade do rosto de Vénus e, por outro lado, a desordenada agitação dos seus cabelos e da paisagem, nem o deslocamento que ocorre entre um sarcófago Antigo e a pintura, transformação do pathos de uma lamentação fúnebre em pathos erótico.
Categoria: