Palavras Aladas – Maria Filomena Molder conversa em torno do desenho com Cristina Robalo

18.00

Maria Filomena Molder

Documenta

2022 | 9789895680160 | 184 pp.
De onde vêm as imagens?
Vêm dos nossos olhos, dos nossos ouvidos, da nossa boca, das nossas mãos, do nosso nariz, dos sentidos em acção, não os sentidos descritos anatomicamente, vêm dos aromas, o tal vento de Eduardo Chillida, o espaço e o tempo: «Não é o vento um espaço de tempo e aromas?».
Quais são as imagens do cheiro?
O cheiro é um sistema de convocatórias. Nós não temos imagens diferidas, representáveis, do cheiro. Isso é muito importante! Como é que nós transmitimos o aroma do vento? Sentindo o vento e aquilo que o vento arrasta. E o tempo tem a ver com isso. Portanto, quando se fala do aroma do vento, para quem quer compreender a imagem, tem de evocar e, no melhor dos casos, voltar a sentir essa experiência. Por outro lado, o aroma vem das mãos, de todos os ofícios, da relação amorosa e da guerra, mas a caça não é um ofício!
O que é a caça?
Como diz Benjamin, a caça é uma imagem da vida (a primeira, em rigor), com particular potência para a compreensão da relação entre vestígio
e aura. Ouça-se a maravilhosa cantata de Béla Bartók (Cantata Profana. Os Veados Mágicos, obra para orquestra, duplo coro misto, tenor e barítono, de
1930). Em Semear na Neve (Relógio D’Água, 1999), no capítulo «Aura e vestígio», faço uma análise dessa Cantata e estabeleço um vínculo com os conceitos benjaminianos. É uma história sobre nove irmãos a quem o pai não tinha ensinado nenhum ofício. Eles só sabiam caçar e um dia sofrem uma metamorfose irreversível, transformando-se em nove veados mágicos. Mais tarde, quando os homens começam a trabalhar a terra e a tecer ou a moldar um vaso, a vida passa a ser vista através desses actos oficinais.
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