Os meus Oscar Wilde

14.00

André Gide

Sistema Solar

2020 | 9789898833549 | 152 pp.
«Toda a verdade deixa de sê-lo, desde que haja mais do que uma pessoa a acreditar nela.»
Uma das companhias preferidas de Oscar Wilde era lorde Alfred Douglas (que viria a ser Bosie na linguagem do seu
afecto), rapaz de vinte e um anos, estudante no Magdalen College de Oxford com uma qualidade poética que os elogios de Wilde sobrevalorizavam, terceiro filho de um marquês grosseiro e brutamontes, de seu nome Queensberry. Wilde conheceu esse jovem na sua própria casa de Tite Street, apresentado por Lionel Johnson, um amigo que o trazia, encantado com uma recente leitura de Dorian Gray.
«Depois de trocadas as habituais cortesias», veio Alfred Douglas a escrever, «Wilde mostrou-se muito amável e falou
imenso. Antes de eu me retirar convidou-me para almoçar ou jantar com ele no seu clube — convite que aceitei.»
Esta amizade intensificou-se. Wilde e Bosie começaram por fazer duas viagens juntos (uma a Florença, outra a Brighton) e partilharam depois um apartamento comum no Hotel Savoy de Londres; mas, se acreditarmos nas palavras de Bosie, foram precisos seis meses de intensas intimidades e leitos separados por curta vizinhança para ele não resistir às suas propostas sexuais.
Em 1895, pouco depois do imenso êxito da peça An Ideal Husband, Wilde e Bosie decidiram ver de perto a beleza morena e compreensiva, nesses tempos fácil de encontrar entre os jovens árabes de Argel.
Ora, André Gide também gostava da Argélia, colónia do seu país com um forte exotismo visual e sensorial, próxima na sua distância, bastante em conta para as folgas da sua bolsa. Por acidente, juntaram-se os três na Argélia. Mas já tinha havido outros encontros. Gide vai lembrar-se aqui da sua vistosa presença em Paris, dos seus ditos, dos seus paradoxos, de um teatro de salão onde Oscar Wilde fazia incansavelmente a representação da sua própria personagem.
Lembrar-se-á do Oscar Wilde na Argélia, do Oscar Wilde numa fria aldeia da França, abrigado sob o pseudónimo Sébastien Melmoth, derrotado e ferido depois de dois anos de cárcere na Inglaterra. E, para além dos textos de Gide, ler-se-á também uma selecção dos mais significativos momentos dos seus processos. [Aníbal Fernandes]