Carlos César Pacheco Língua Morta 2022 | 9789893333747 | 64 pp. A narrativa descreve uma sociedade que foi originalmente concebida como uma utopia mas que correu mal (uma distopia) ou uma sociedade que foi, desde o início, desenhada para vir a ser aquilo em que se tornou (uma anti-utopia). [Ezequiel Nunes]
António Amargo Xerefé 2022 | 9789895494842 | 157 pp. Num volume graficamente muito cuidado, a editora Xerefé reuniu vários textos de uma figura ilustre do jornalismo e das letras da Figueira da Foz, hoje pouco conhecida. António Amargo, pseudónimo de António Correia Pinto de Almeida, nascido em 1896 (no Rio de Janeiro), foi fundador do jornal satírico “O Palhinhas” e colaborou com diversos outros periódicos, locais e nacionais, espalhando textos que hoje se afiguram preciosos para compreendermos as primeiras décadas do século passado. Aos textos juntam-se ilustrações de André Ruivo, Marta Madureira, Rita Carvalho e Sebastião Peixoto, para além de uma apresentação de Ana Biscaia e várias informações bio-bibliográficas.
Ushio Amagatsu VS. 2022 | 9789899105003 | 40 pp. Diálogo com a Gravidade, prosa poética que podia ao mesmo tempo ser uma carta a um jovem bailarino, é, no fundo, um manual acerca da dança, uma reivindicação de que «o corpo existe» e encontra a sua «expressão numa tensão física».
Rui Conceição Silva Visgarolho 2021 | 9789895316700 | 351 pp. Quantos silêncios e quantos sonhos cabem no peito de um homem? Nascido para ser pastor, Rodrigo viveu a infância com os seus pais e irmãos numa velha cabana isolada na montanha, tendo desde cedo aprendido o silêncio, bem como a dor e a saudade, pela morte do irmão mais velho na guerra do ultramar. Os seus melhores dias foram passados na montanha com o avô Josué, a quem chamavam Celtibero, e na escola primária, onde conheceu os primeiros amigos e se deixou enfeitiçar por uma moira encantada. Rodrigo sonhava para si uma vida diferente, o avô incentivava-o a contrariar um destino que parecia certo, incitava-o a partir e correr mundo. Ouviu palavras idênticas a um homem que apareceu na montanha a tocar um tambor para os ancestrais.
Paulo Moreiras Visgarolho 2021 | 9789895316717 | 187 pp. O Caminho do Burro é uma antologia dos melhores contos escritos por Paulo Moreiras, entre 1996 e 2017, que andavam dispersos por diversas publicações, algumas hoje esquecidas ou de difícil acesso. Contos onde o picaresco e a malícia do povo português andam de braço dado com as invejas e as cobiças de gente ruim e sem escrúpulos. Uns à procura de uma vida melhor, do amor, da amizade e outros a engendrar estratagemas a fim de estragar os bons planos do vizinho. Um retrato irónico, mordaz e cheio de humor sobre as grandezas e misérias de ser português, com os seus toques de malandro, pinga-amor e desenrascado. Tudo embrulhado pela riqueza vocabular a que Paulo Moreiras já nos habituou. Contos para comer, beber e rir por mais, que assim se dizem as verdades.
Leonel Gomes Casqueira Visgarolho 2021 | 9789895316724 | 204 pp. A Poeira dos Ossos, estreia literária de Leonel Gomes Casqueira, é composto por um conjunto de contos desconcertantes e de grande originalidade, onde uma mundana galeria de personagens se debate com os universais temas da procura do amor, da partilha de afetos, da corporeidade grosseira das paixões e da demanda por aceitação; em situações que roçam por vezes o cómico e o absurdo.
Vários autores Visgarolho 2022 | 9789895316731 | 386 pp. Esta coletânea de Contos e Crónicas é fruto do projeto artístico Mapas do Confinamento. Usando as novas tecnologias para colmatar as distâncias, tem apostado em traduções para francês e inglês, com possibilidades de se abrir a outras línguas. Foi no pico da pandemia que os escritores portugueses Gabriela Ruivo Trindade e Nuno Gomes Garcia convidaram mais de uma centena de artistas de todos os países de língua portuguesa para desenharem em conjunto a cartografia da pandemia. Uma colaboração que visa registar, para memória futura, o modo como esta pandemia os afetou enquanto seres humanos e artistas, mas também as cicatrizes deixadas no tecido social de países como Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e muitos outros territórios onde estes artistas residem, tais como a França, o Reino Unido, os Estados Unidos, a Suíça, a Holanda e a Bélgica.
Maria Filomena Mónica Relógio D'Água 2022 | 9789897832420 | 216 pp. Esta é a história de duas mulheres de diferentes gerações que fizeram parte da vida da autora. A primeira, a sua avó, foi adolescente nos loucos anos 20; a segunda, a sua mãe, viveu sob o salazarismo. Maria Filomena Mónica, que atravessou as mudanças de Abril de 1974, avalia essas duas mulheres através de recordações, cartas, diários, fotografias e outros documentos.
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa D. Quixote 2022 | 9789722074896 | 480 pp. Edição especial comemorativa dos 50 anos de um livro que é um marco inquestionável na história da literatura portuguesa. «É tal a rotura introduzida pelas Novas Cartas Portuguesas que a sua primeira abordagem só pode ser feita à luz do que elas não são. Não são uma colectânea de cartas, embora se reconheça nelas o estilo tradicionalmente cultivado pelas mulheres em literatura. Não são um conjunto de poemas esparsos, embora em poesia se converta toda a realidade retratada. Não são tão-pouco um romance, embora a história vivida (ou imaginada) de Mariana Alcoforado lhes seja a trama principal. São talvez um pouco de tudo isso. E ainda mais […]. Porque rompem, extravasam. Daí que as Novas Cartas Portuguesas se caracterizem antes de mais pelo excesso. Excessivas as situações, excessivo o tom, excessivas as repetições dum mesmo acto, excessivo afinal todo o livro que vai terminando sem realmente…
António Ferro E-Primatur 2021 | 9789898872791 | 692 pp. A produção literária de António Ferro faz dele provavelmente o único escritor modernista português a focar-se maioritariamente na prosa. António Ferro foi o jovem editor da revista Orpheu. A sua ligação ao modernismo vinha do convívio com Mário de Sá-Carneiro e outros jovens. A sua primeira fase de escritor focou-se no modernismo, tendo escrito poesia, teatro e, sobretudo, prosa ficcional. A ficção de António Ferro está centrada exclusivamente nos anos 20 do século XX. Fundamentalmente composta por contos e novelas curtas, centra-se na figura feminina, que, para o autor, encarna a novidade da época moderna. Vamps, galãs e carrões enchem os seus contos e novelas. Os contos e novelas de António Ferro fazem a perfeita travessia dos temas tradicionais da ficção da época para o estilo e a mentalidade modernas. Nisso é um escrito único cujo paralelo possível entre os escritores vanguardistas da época está, de forma quase exclusiva, nas obras de Ramón…
Ana Marques Gastão BookBuilders 2021 | 9789898973290 | 116 pp. Uma novela enigmática sobre a também enigmática relação entre uma mulher e o mundo. Libbie-Emília fica condenada a ver, a não fechar os olhos. A não dormir? A não sonhar? A narrativa, em dez actos, reflecte sobre o desejo, a morte, o tempo, o desajustamento, a imaterialidade das coisas. Matias, Megan, Olímpia, Helena Pyr, a Mulher-Gautama, Dante sem cabeça, Larry, Lora, Ágata, Ctónia, Deboni, Boaxi, John, Sávia, Badoloni, os sem-ouvidos, os seres-granadas, entre outras vozes, dão as mãos nesta dança da escrita. A Mulher sem Pálpebras descreve o itinerário de um corpo ao lado de tantos outros, também o dos poetas, dos artistas, dos místicos. «Interessa, o agora. Essa hora. Aqui. Libbie olha para baixo sem pálpebras. Os pés também não podem ver em excesso, tropeçam, enrolam-se um no outro. O ruído das botas vinha de cima como se as paredes não existissem e o chão fosse transparente. Para isso servem os…
Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta Dom Quixote 9789722040112 | 464 pp. «Reescrevendo, pois, as conhecidas cartas seiscentistas da freira portuguesa, Novas Cartas Portuguesas afirma-se como um libelo contra a ideologia vigente no período pré-25 de Abril (denunciando a guerra colonial, o sistema judicial, a emigração, a violência, a situação das mulheres), revestindo-se de uma invulgar originalidade e actualidade, do ponto de vista literário e social. Comprova-o o facto de poder ser hoje lido à luz das mais recentes teorias feministas (ou emergentes dos Estudos Feministas, como a teoria queer), uma vez que resiste à catalogação ao desmantelar as fronteiras entre os géneros narrativo, poético e epistolar, empurrando os limites até pontos de fusão.» Ana Luísa Amaral in «Breve Introdução»
João Tordo Companhia das Letras 2022 | 9789897845390 | 320 pp. Aos sessenta anos, o romancista Jaime Toledo enfrenta vários problemas. Não escreve há uma década, foi diagnosticado com cancro e, de repente, dá por si no epicentro de um escândalo. Escritor de renome em Portugal, a polémica lança-o para o abismo - sem carreira, sem dinheiro e sem casa, com os livros a ganhar pó nos armazéns, depois de banidos pela sua editora, toma uma decisão radical: deixar tudo para trás e mudar-se para um barco decrépito, fundeado nas docas de Lisboa. É no Narcisse - um minúsculo «barco mágico» -, na companhia de uma velha guitarra e de um cão chamado Sozinho, que Jaime procurará devolver o sentido à sua vida, reconciliando-se com o passado: as relações conturbadas com as mulheres, o abandono da escrita, a culpa que o corrói. Até que, um dia, a aparição de uma figura do passado mudará tudo, desviando a narrativa para um lugar inesperado.…
João Melo Caminho 2022 | 9789722131582 | 256 pp. Uma arrasadora paródia metaliterária e político-social, que não deixa pedra sobre pedra: as teorias, instituições e poderes literários e culturais; o eurocentrismo; os supremacismos, identitarismos e todos os excessos da contemporaneidade; os falsos reformismos. Mestre da ironia e do humor, assim como das técnicas narrativas pós-modernas, João Melo extrema-se numa construção inesperada e magistral, interpelando tais tendências com coragem e, ao mesmo tempo, compaixão e desconstruindo deliberadamente um certo pós-colonialismo folclórico, que limita os autores africanos a escolhas locais e de preferência exóticas.
Alves Redol Caminho 9789722124102 | 360 pp. Avieiros é um romance lírico, de um lirismo doloroso e concreto. Documento e sonho vazados na matriz irregular de uma consciência, há nele um gosto fundo, autêntico e viril, de semear na companhia do povo um país para homens livres. Mas um lirismo rigoroso, digamos, sem romantismos fáceis, um pouco como os versos líricos que também moram nas tábuas de logaritmos ou nos foguetões interplanetários. Se confessar que este romance me aterrorizou, depois de me deslumbrar, digo a verdade inteira.
Raul Pereira Snob 2022 | 492096/21 | 355 pp. «No princípio era…» Desde Martulah, no Gharb, até ao Museu Soares dos Reis nos dias de hoje, somos levados a fazer uma viagem alucinante às raízes de Joana. Na imensa árvore genealógica da sua família cruzam-se árabes, judeus, cristãos-novos, reis, São Vicente (espelhado nos olhos de um corvo), combatentes e homens e mulheres trágicos. Com eles fazemos uma romagem à nossa ancestralidade, à génese da nossa história, da nossa língua. A epigénese catártica começa com Joana a sair do torpor de um pesadelo demasiado real. Simultaneamente, nós iniciamos a nossa, ao revisitarmos os pontos da história no locus onde nos violentamos: a penumbra da nossa identidade.DE GENERE é uma obra que nos traz ora a sátira ora a soturnidade que compõem o tecido emocional e afectivo das famílias portuguesas do dealbar do século XXI, que trazem a marca indelével da Guerra Colonial e os seus fantasmas.Raul Pereira chegou à Terra no Primeiro de…
M. Teixeira-Gomes Imprensa Nacional 2021 | 9789722729512 | 368 pp. Quatro obras de M. Teixeira-Gomes. Manuel Teixeira Gomes nasceu em 1860 em Vila Nova de Portimão e faleceu em 1941, em Bougie, na Argélia. Estadista e escritor, começou a sua carreira política como diplomata, vindo a ser Presidente da República em 1923-1925, quando o regime parlamentar atravessava alguns dos seus mais críticos momentos. Como diplomata (antes e depois do consulado sidonista, que o expulsou do corpo diplomático), coube-lhe enfrentar, o que fez com êxito, situações de grande melindre e complexidade, designadamente combater a hostilidade ou pelo menos a desconfiança das monarquias europeias (Inglaterra, Espanha) perante o regime republicano instaurado em Portugal e evitar o desmembramento, na Conferência de Paz, do império português após a Primeira Guerra Mundial. A sua acção como presidente da República não teve, porém, o mesmo sucesso, pois teve de enfrentar crises políticas (entre elas a de 18 de Abril de 1925) e animosidades pessoais que impossibilitaram a concretização…
Marcello Duarte Mathias D. Quixote 2021 | 9789722072908 | 72 pp. Constituído por seis andamentos, eis um verdadeiro exercício de estilo, no bom sentido da expressão. Manejando a língua com elegância e destreza, utilizando a memória para fazer sobressair o real a inventar, acumulando deduções, levantando hipóteses, ordenando factos, escolhendo disfarces, fechando alçapões, iniciando labirintos, confundindo o tempo e alinhando espaços, demorando-se no sonho, libertando-se do fútil, insistindo no belo, quase roçando o lirismo e salpicando a narrativa de intensos laivos eróticos, o autor presta, neste livro, uma notável homenagem à mulher amada. O pretexto é um quadro do pintor belga simbolista Fernand Khnopff. À medida que se demora na sua contemplação o espectador vai-se lentamente apoderando do retrato para o transformar à sua imagem, isto é, à imagem da mulher pretendida. E aqui começa a aventura.”
Madalena de Castro Campos Relógio D'Água 2021 | 9789897832017 | 152 pp. «(E veio uma daquelas épocas em que não tinha nada a que pudesse chamar casa, nem quarto nem cama nem lençóis, nada que fosse seu, nada que pela noite permitisse antecipar o dia seguinte, entre comboios, transbordos, voos desviados e escalas no meio do deserto. Lá fora era noite e seria noite, frio, fome, os horários trocados à procura do quarto que a amiga de uma amiga lhe prometera. Em volta falavam línguas que não dominava, obedeciam a códigos que só a custo começava a compreender e quando enfim algo ou alguém principiava a fazer sentido — a compreender por exemplo o que era ser mulher num mundo de homens, o que seria ser mulher por entre as mulheres, o que esperavam dela, o que poderia ela esperar dos outros — mudava de lugar e era obrigada a recomeçar do início. Procurar um quarto para alugar, fazer durar o dinheiro…