Gueorgui Gospodinov Relógio d'Água 2024 | 9789897834639 | 318 pp. Vencedor do Prémio Jan Michalski de Literatura Finalista dos prémios Strega Europeo e Gregor von Rezzori, Física da Tristeza reafirma Gueorgui Gospodinov como um dos mais inventivos e ousados escritores da Europa. Publicado quase uma década antes de Refúgio no Tempo, vencedor do International Booker Prize, Física da Tristeza tornou-se um clássico de culto underground. Encontrando um estranho consolo no mito do Minotauro, um homem chamado Gueorgui reconstrói a história da sua vida como um labirinto, deambulando pelo passado para encontrar a criança melancólica no centro de tudo. Cataloga curiosos casos de abandono, que vão da Antiguidade ao Antropoceno; relata cenas de uma infância turbulenta na Bulgária dos anos 70, passada sobretudo numa cave; e descreve um encontro bizarro com um excêntrico flâneur chamado Gaustine. Ao ler Física da Tristeza, encontramos diversas personagens secundárias, deambulamos por várias histórias e sentimos empatia pelo incompreendido Minotauro, que está no centro de tudo o que…
Marlen Haushofer Antígona 2024 | 9789726084600 | 296 pp. De férias numa casa de campo nos Alpes austríacos, uma mulher depara com uma barreira invisível que a isola do mundo e a leva a crer que é a única sobrevivente de uma catástrofe. Tendo por única companhia os animais e as imponentes montanhas, e à medida que se adapta a um novo modo de vida, desenvolve uma profunda ligação com a natureza, encontrando um propósito: resistir entre a ameaça da loucura e a dureza das tarefas diárias, à mercê dos elementos, e zelar pelo que resta. Escrito em plena Guerra Fria, A Parede (1963) é um clássico ecofeminista redescoberto, uma comovente história de sobrevivência e regresso às origens, movida pela empatia por tudo o que nos rodeia, animal ou vegetal. Este livro de culto, com ecos de Walden e Robinson Crusoe, foi adaptado ao cinema por Julian Pölsler em 2012.
Layla Martínez Antígona 2024 | 9789726084556 | 128 pp. Fenómeno literário em Espanha, Caruncho (2021) narra o regresso de uma neta, acusada de um crime, à casa rural da família e mergulha o leitor no coração de uma Espanha vazia, marcada por resquícios do franquismo, uma terra tão agreste e estéril como o destino a que condena as mulheres que nela vivem. Contada a duas vozes, pela jovem e pela avó, esta história de rancor e vingança é indissociável da memória do lar assombrado, de espectros que clamam justiça, entre quatro paredes sobre as quais pesam traumas herdados e décadas de violência e opressão. Um aclamado romance de estreia, com ecos de Pedro Páramo, de Juan Rulfo, e de alguns contos de Silvina Ocampo, em que se entrelaçam terror, injustiça social e uma pesada herança familiar que, como o caruncho, corrói as protagonistas.
Sally Rooney Relógio d'Água 2024 | 9789897834813 | 423 pp. Apesar de serem irmãos, Peter e Ivan Koubek parecem ter pouco em comum.Peter é um advogado de Dublin na casa dos trinta, bem-sucedido, competente e aparentemente imperturbável. Mas após a morte do pai começa a medicar-se para conseguir dormir e a lutar para gerir os seus relacionamentos com duas mulheres muito diferentes: Sylvia, o seu amor de longa data, e Naomi, uma estudante universitária que encara a vida com ligeireza.Por sua vez, Ivan é um competitivo jogador de xadrez de vinte e dois anos. Solitário e socialmente desajeitado, é o oposto do seu irmão mais velho e estruturado. Nas primeiras semanas de luto pelo pai, Ivan conhece Margaret, uma mulher mais velha que está a recuperar de um passado turbulento, e as suas vidas entrelaçam-se de forma intensa.Para os irmãos e as pessoas que eles amam, este é um interlúdio. Um período de desejo, desespero e possibilidade. Uma oportunidade de descobrir quanto…
Leonora Carrington Antígona 2024 | 9789726084679 | 228 pp. Quando uma nonagenária vegetariana e dura de ouvido recebe de presente uma corneta acústica, rapidamente se apercebe dos planos que a família lhe destina: um bilhete (só de ida) para um sinistro lar de terceira idade cristão, patrocinado por uma marca americana de cereais de pequeno-almoço. Cedo, porém, descobrirá que a sua nova residência é um lugar bem mais excitante do que tinha previsto. Povoada pelas heroínas de maior longevidade da história da literatura e com uma intriga que alia, previsivelmente, calistenia e desastres climáticos, anarquia e croché, A Corneta Acústica (1974), nesta edição ilustrada pelo filho da autora e prefaciada por Ali Smith, é, além de um clássico do surrealismo admirado por Luis Buñuel e Olga Tokarczuk, uma alucinante — e hilariante — viagem ao absurdo e à ternura.
Claude Cahun Sr. Teste 2024 | 9786120017135 | 162 pp. Considerada por André Breton como “um dos espíritos mais curiosos do nosso tempo”, Claude Cahun foi fotógrafa, poeta, ensaísta, crítica, tradutora, actriz e activista política. A sua obra onde, explora o mistério e a ausência, dá forma a questões como género, identidade e auto-representação. Sobrinha de Marcel Schwob foi, junto com Dora Maar, a principal fotógrafa do Surrealismo. Os seus auto-retratos remontam aos seus 18 anos, em 1912. Ao lado de Breton e Bataille colabora com o Movimento Antifascista “Contre Attaque”. Juntamente com a sua companheira, Marcel Moore, foi presa em 1944 e condenada à morte. Escapou miraculosamente e liberta no final da Guerra. Uma artista em constante busca da revelação de si.
Salman Rushdie Dom Quixote 2023 | 9789722077644 | 400 pp. Na sequência de uma batalha menor entre dois reinos do Sul da Índia do século XIV, há muito esquecidos, uma rapariga de nove anos tem um encontro divino que irá alterar o curso da história. Depois de assistir à morte da mãe, Pampa Kampana, torna-se o veículo de uma deusa, que começa a falar pela boca da rapariga. Concedendo-lhe poderes que estão para lá da compreensão de Pampa Kampana, a deusa diz-lhe que ela será determinante no surgimento de uma grande cidade chamada Bisnaga – «a cidade da vitória» –, a maravilha do mundo. Ao longo dos 250 anos subsequentes, a vida de Pampa Kampana virá a estar profundamente interligada à de Bisnaga. Conferindo existência a Bisnaga e aos seus cidadãos por meio de sussurros, Pampa Kampana tenta levar a cabo a tarefa que a deusa lhe confiou: dar igual representação às mulheres num mundo patriarcal. Mas todas as histórias têm tendência…
Marguerite Yourcenar Relógio d'Água 2023 | 9789897833540 | 96 pp. Alexis é a confissão de um homem que deixa a sua mulher para assumir a sua homossexualidade. No prefácio que escreveu décadas depois da saída do livro, Yourcenar afirma que foi publicado «num momento da literatura e dos costumes em que um tema até então marcado por interdito encontrava pela primeira vez, desde há séculos, a sua plena expressão escrita».
Goliarda Sapienza Antígona 2023 | 9789726084419 | 224 pp. Carta Aberta (1967), primeiro livro de um ciclo que Goliarda Sapienza intitularia «Autobiografia das Contradições», é um ajuste de contas com o mundo, pela mão de uma das escritoras italianas mais apaixonantes do século xx. Fruto de um conflito interior e da necessidade de indagar o passado — quando da boca dos adultos brotavam mais mentiras do que verdades, e os pais «combatiam o fascismo com a mesma rigidez e a mesma retórica dele» —, centra-se nos tempos de infância e juventude na luminosa Catânia, recuperando as mulheres sicilianas que moldaram a autora, as superstições inspiradas pelo Etna, a morte do pai e a loucura da mãe, traumas da guerra e da ditadura.
J.-K. Huysmans Maldoror 2023 | 9789895360550 | 276 pp. «Ao Arrepio», de 1884, é uma obra que acompanha as excentricidades e angústias do esteta Des Esseintes, e que de tal maneira simbolizou a decadência da cultura da elite francesa do final do século XIX, que foi considerado um breviário do decadentismo. É este o livro amarelo, venenoso, que corrompe Dorian Gray na famosa obra de Oscar Wilde. «A verve indómita, o talento áspero, desvairado de Goya cativava-o, muito embora a admiração universal que as suas obras haviam conquistado tivesse acabado por desmoralizar um pouco esse entusiasmo, e o fizesse renunciar, durante anos, à vontade de as emoldurar, não fosse essa exposição convidar o primeiro imbecil que acontecesse lobrigá-las para uma qualquer necessidade de dislates e êxtases estudados. Passava-se o mesmo com os seus Rembrandts, que examinava secretamente, de quando em quando; e, na verdade, tal como a mais bela melodia do mundo se torna vulgar, insuportável, a partir do momento em que…
Barry Hines Maldoror 2023 | 9789895360543 | 252 pp. Kes -Um Falcão para Um Patife foi originalmente publicado em 1968. Conta a história da inesperada relação de um rapaz sem rumo e de um falcão, que rapidamente se tornou o livro mais conhecido de Barry Hines, e que apenas um ano mais tarde seria adaptado ao cinema por Ken Loach. Romance duro, mas inspirador, Kes tornou-se um clássico da literatura britânica moderna, e o rebelde Billy Casper é uma das suas personagens mais marcantes.
Scott McClanahan Cutelo 2022 | 9786120013700 | 170 pp. Há algo de hipnótico e vertiginoso nestas histórias, como se de súbito fôssemos engolidos por um sonho alucinado e elíptico que nos despedaça os dentes e nos rompe as órbitas pela raiz. Acercando-se do universo de autores como Flannery O' Connor, Shirley Jackson, Erskine Caldwell ou Donald Ray Pollock, Scott McClanahan (n.1978) mergulha nessa mesma absurdidade negra e trágica que atravessa as narrativas dos autores sulistas dos EUA.
Sherwood Anderson Cutelo 2023 | 9786120013564 | 232 pp. Romancista e contista norte-americano, colaborou em diversos jornais e revistas, tendo influenciado autores como Ernest Hemingway e William Faulkner. Mestre do conto, retratou como nenhum outro autor da sua geração a realidade das comunidades sulistas norte-americanas, obtendo o merecido reconhecimento com a publicação do brilhante livro de contos, intitulado Winesburg, Ohio, publicado em Maio de 1919. A sua escrita vai muito além de meras descrições da paisagem, das casas decrépitas do sul dos EUA e das suas estradas poeirentas. É a estranheza das suas personagens que nos comove, a forma como as suas vidas, neuroses e inquietações, rapidamente se transformam num sussurro, numa espécie de segunda voz interior, segunda consciência, que nos sorve e nos possui como um canto fantasmagórico. Estes “grotescos”, como Sherwood Anderson (1876-1941) os apelidava, são indivíduos arraigados na sua própria terra, assaltados pela dúvida e pelo medo, sentimentos bastante comuns nesse habitual hermetismo que caracteriza as comunidades rurais do…
Jean-Pierre Martinet Cutelo 2023 | 9786120014820 | 54 pp. «Esta história sobre este indivíduo com um nome evocador não é apenas grotesca e trivial, é também profundamente autêntica no seu gesto derisório de mediocridade e grandeza, aliando-se (delicadamente aplicada em filigrana no corpo da narrativa) à evocação de um dos períodos mais conturbados da nossa História, revelador de certas cobardias humanas: a ocupação dos Nazis de uma parte do território francês.» Tradução de Diogo Paiva.
Larry Brown Cutelo 2023 | 9786120014967 | 178 pp. O estilo visceral de Larry Brown, finalmente traduzido em Portugal. Dar a Cara, originalmente de 1988, reúne um conjunto de dez histórias curtas e foi o primeiro livro de Larry Brown a ser publicado.
Joe Brainard e Georges Perec Cutelo 2023 | 9786120014554 | 252 pp. Lembro-me é o sétimo livro da Cutelo, editora independente de Guimarães. É um livro escrito a duas vozes, em dois momentos, por dois autores de nacionalidades distintas. Em comum, a mesma escrita fragmentária, unida sob o mesmo mote. Tradução de André Marques (Joe Brainard) e Diogo Paiva (Georges Perec)
Chantal Akerman BCF 2023 | 9789895339846 | 69 pp. Pela janela de um apartamento em Bruxelas vê-se uma mulher, quase sempre vestida de roupão e envolta nas suas memórias. Ela acaba de perder o marido. Por isso passa muito tempo ao telefone, a falar com as filhas, uma em Ménilmontant, um bairro de Paris, outra na América do Sul, e com a família espalhada pelo mundo. Nesse labirinto de vozes, evoca o vazio que a cerca, com a delicadeza de uma fuga musical. Para além do nome impronunciável da Shoah e do silêncio dos sobreviventes, fala de uma solidão indescritível e dos pequenos arranjos com a vida. Memórias no meio das banalidades do quotidiano. Uma história de luto sublimada por palavras, Uma Família em Bruxelas é uma conversa íntima como um livro aberto.
Vivant Denon VS. Editor 2023 | 9789899105164 | 80 pp. «[U]m texto de culto, solitária e curta ficção de um autor com mais dois livros apenas, ambos de viagens; as cerca de quarenta páginas a que Sainte-Beuve chamou “verdadeiramente delicadas”, Anatole France uma “jóia”, Honoré de Balzac “uma pintura deliciosa dos costumes do século anterior”.» [Aníbal Fernandes]
Alexandre Papadiamantis Sr. Teste Edições 2023, 354 pp. Pela primeira vez traduzido para português, fica uma breve nota introdutória retirada do posfácio da tradutora: “A sua obra é marcada pelas tradições e superstições que caracterizavam a vida e a mentalidade da sociedade rural da Grécia do seu tempo, por vezes tocada de um “realismo mágico” que o aproxima de Márquez e de uma intensidade do sofrimento humano que o aproxima de Dostoievski. Da tragédia ao pícaro, com mestria, dir-se-ia, desapaixonada, Papadiamantis dá-nos a observar a vida quotidiana das paixões humanas num palco frugal, perceptível apenas para os raros que, como ele, vêem devagar. A geografia, a vida local, os usos e costumes, o quotidiano, a paisagem, o lugar e o tempo. E «o local sem os muros», onde nos encontramos todos, independentemente da geografia.”
Georges Bataille Sr Teste Edições 2023 Imageticamente, o livro mais violento e explícito de Georges Bataille. Mantendo o fio condutor temático da sua filosofia que explora o conceito de angústia, o erotismo, o ritual, o deboche, o riso, o autor extravasa os limites sociais que a palavra ainda consegue abarcar. Desta tiragem fizemos uma edição especial de 30 exemplares, com a intervenção da artista Rita Gaspar Vieira que através de um derrame de papel de algodão criou um véu que potencia o segredo contido nestes escritos. Com tradução de Ricardo Ribeiro.
George Saunders Relógio d'Água 2023 | 9789897833304 | 256 pp. O «melhor contista em inglês» (TIME) está de volta com uma coleção de contos que explora ideias de poder, ética e justiça, mostrando o que significa viver em comunidade com os nossos semelhantes. Com a sua prosa perversamente irónica e não sentimental, Saunders continua a desafiar e surpreender. Estas histórias multifacetadas que abrangem alegria e desespero, opressão e revolução, estranha fantasia e realidade brutal fundem-se para mostrar o mundo com a generosidade e a atenção perspicaz que Saunders tem, até nas circunstâncias mais absurdas.
Ottessa Moshfegh Relógio d'Água 2023 | 9789897833434| 280 pp. Numa povoação medieval fustigada por desastres naturais, um pastor órfão de mãe torna-se o improvável centro de uma luta pelo poder que põe à prova todo o tipo de fé. O pequeno Marek, o filho abusado e delirante do pastor da aldeia, nunca conheceu a mãe; o pai disse-lhe que ela morreu no parto. Um dos poucos consolos da vida de Marek é a sua relação com a parteira cega da aldeia, Ina, que o amamentou quando ele era bebé, como fazia com tantas outras crianças. Ina possui uma habilidade única para comunicar com o mundo natural. O seu dom muitas vezes concede-lhe conhecimentos sagrados em níveis que estão muito além dos alcançados por outros aldeãos, por mais religiosos que sejam. Para algumas pessoas, a casa de Ina na floresta fora da aldeia é um lugar a temer e evitar, um lugar sem Deus. Entre eles está Barnabas, o padre da cidade e…
Annie Dillard Antígona 2023 | 9789726084334 | 200 pp. Ensinar Uma Pedra a Falar (1982) reúne catorze ensaios autobiográficos que nos levam a locais remotos do planeta: rumo ao gelo do Árctico («Uma expedição ao Pólo»), à vida à beira-rio nos confins da selva equatoriana, entre tartarugas e leões-marinhos nas Galápagos («Vida nas rochas») e eclipses solares. Oscilando entre a inefável grandiosidade do intocado, a resignação pelo destino de um veado capturado («O veado em Providencia») e o milagre da troca de olhares com uma doninha no campo («Viver como doninhas»), Annie Dillard capta habilmente momentos tão fugazes como clarividentes, revelando-os em todo o seu assombro. Habitadas por Emerson, Thoreau e Dickinson, destas páginas irrompem divagações filosóficas sobre o inexorável movimento do tempo, reflexões sobre a admiração que a natureza nos inspira e que a civilização teima em apagar, formulando uma filosofia do olhar e da liberdade.
José Miguel Silva Antígona 2023 | 9789726084341 | 216 pp. Escrito em 1942, O Homem que Viveu Debaixo de Terra via a luz do dia em 1961 como um conto cujas cenas de violência haviam sido truncadas pela censura editorial. Em 2021, recuperou-se a versão integral do texto, acompanhada nesta edição pelo ensaio «Recordações da Minha Avó» – que narra a génese da obra – e posfaciada pelo neto do autor. A história de Fred Daniels, um negro injustamente acusado de homicídio que se refugia nos túneis e esgotos da cidade, dá corpo a um romance existencial recém-descoberto em toda a sua amplitude. A partir deste episódio verídico de injustiça policial, o protagonista, descendo às profundezas, eleva-se acima da civilização e observa com toda a lucidez o absurdo do mundo, «como se os seus olhos tivessem sido abertos por mãos invisíveis». «Romance incendiário sobre raça e violência nos EUA», o mais acarinhado por Richard Wright, é agora publicado tal como ele o…
Horace Walpole Antígona 2023 | 9789726084389 | 88 pp. Antecedendo o surrealismo francês e o nonsense de autores como Edward Lear e Lewis Carroll, estes seis Contos Hieroglíficos (1785), «escritos um pouco antes da criação do mundo», oferecem-nos histórias mirabolantes sobre personagens fantásticas e rocambolescas, que parecem ter saído dos sonhos mais estranhos de Horace Walpole. Plenos de humor e ironia, inspiram-se em lendas e fábulas antigas, cujas normas narrativas foram subvertidas de uma forma verdadeiramente absurda e delirante, proporcionando-nos fartas doses de riso e boa disposição.
Melchior Vischer Barco Bêbado 2023 Tradução de António Gregório e Joana Jacinto. Introdução de David Vichnar. Notas de Tim König e David Vichnar. Capa de Roger Ballen. «A cidade dos macacos uivadores e das pulgas, da corrupção, do bacillus idioticus militaris neo-europeu, também o ponto fulcral de todas as bandeirolas de um mundo ocidental tratado a arsfenamina, sede de traficantes que agitam o mercado em alta com a insolvência do estado, de esgotos entupidos, dos eléctricos mais rápidos do mundo e a cidade dos seis mil ministros. Já todos foram ou são ou serão ministros. Em troca disso, toda a nação resplandece.»
Juan Rulfo Cavalo de Ferro 2023 | 9789896239862 | 216 pp. Compilação num único volume da prosa curta de Juan Rulfo — os contos de A Planície em Chamas e o texto O Galo de Ouro —, que revolucionou a literatura hispano-americana e mundial. Em 1953, dois anos antes de Pedro Páramo, com o qual obteria a consagração internacional como um dos escritores mais influentes do século XX, Juan Rulfo publica a sua primeira obra, um volume de contos com o título A Planície em Chamas. Desde logo, a novidade da sua prosa impressiona e desperta a atenção, nomeadamente pela profundidade das personagens: camponeses que lutam pela subsistência, caciques brutais e revolucionários sanguinários que se cruzam e coexistem num cenário árido e pobre, carregado de solidão, violência e morte.
Knut Hamsun Cavalo de Ferro 2023 | 9789896238582 |176 pp. Prémio Nobel de Literatura. Sob a Estrela do Outono, até hoje inédita em português, é unanimemente considerada uma das obras fundamentais de Knut Hamsun.Fugido da «azáfama, dos jornais e das pessoas da cidade», o protagonista deste romance, ao qual Hamsun empresta o seu próprio nome, Knut Pedersen, refugia-se no campo em busca da verdadeira vida, determinado a conquistar aí a calma e a paz interior. Senhor de si mesmo, vagueia de quinta em quinta, despoja-se da sua roupa elegante para desempenhar o ofício de pedreiro ou lenhador, dá asas à sua veia de inventor, enamora-se de uma mulher casada - um amor proibido que levará este vagabundo idealista de volta ao ponto de partida: um regresso à paixão, ao sofrimento e à cidade.
Stanislaw Lem Antígona 2023 | 9789726084280 | 288 pp. Quando é detectada uma mensagem vinda do espaço, uma comunidade de cientistas, reunida num projecto governamental no deserto do Nevada – Master’s Voice –, não se poupa a esforços para a decifrar. Porém, a primeira transmissão extraterrestre «era como a planta de uma catedral enviada a australopitecos ou uma biblioteca facultada aos neandertais», diz-nos Peter Hogarth, matemático envolvido na missão secreta e autor deste relato. Rapidamente, este enigmático código estelar suscita as mais diversas interpretações de físicos, biólogos, antropólogos e linguistas, apenas para revelar a dúbia relação entre governo e ciência, bem como as limitações do conhecimento em face do insondável. Agora em tradução directa do polaco, A Voz do Dono (1968), publicado em plena Guerra Fria, é um dos romances mais aclamados e densamente filosóficos de Stanisław Lem.
Ottessa Moshfegh Relógio d'Água 2022 | 9789897832871 | 216 pp. Ottessa Moshfegh, uma das mais importantes novas vozes literárias, narra neste romance os esforços de uma jovem mulher para se esquivar aos males do mundo. Para tal, embarca numa hibernação prolongada, com a ajuda de uma das piores psiquiatras da história da literatura e com as enormes doses de medicamentos por ela prescritos. «Cáustico e divertido. Um novo membro obscuro na linhagem das pouco simpáticas personagens femininas de Jean Rhys ou Emily Brontë…» [Margaret Atwood]
Natalia Ginzburg Relógio d'Água 2023 | 9789897833229 | 304 pp. Às vezes basta o ingénuo olhar de uma rapariga para iniciar uma história que vai alterar a vida de duas famílias e de muito mais gente. Anna vive numa povoação no norte de Itália, nos anos que antecedem a Segunda Guerra Mundial. Já adolescente, submete-se quase sem resistência à violência do sexo, casa-se com um homem trinta anos mais velho e vai viver com ele num local inóspito do sul de Itália. Anna permanecerá silenciosa enquanto à sua volta todos falam e gesticulam e vivem as suas alegrias e dramas, até que a guerra obriga a que se tomem decisões importantes e pratiquem gestos definitivos. «Podemos falar de Todos os Nossos Ontens como a versão romanceada de Léxico Familiar.» [Italo Calvino] «Para mim, Todos os Nossos Ontens é um romance perfeito, ou seja, é completamente o que tenta ser, e nada mais. […] Este feito torna-se possível devido à compreensão extraordinária da…
Déborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro Antígona 2023 | 9789726084273 | 264 pp. Este ensaio a duas mãos é «um sobrevoo esquemático dos muitos imaginários do fim do mundo». Conjugando saberes da filosofia moderna europeia e pesquisas sobre a metafísica ameríndia, Há Mundo por Vir? (2014) analisa actuais imaginários apocalípticos e discursos escatológicos (no cinema, na literatura, na filosofia e na ciência), interpretando-os como expressões e sintomas, não ainda do fim irreparável e absoluto, mas do fim de um certo mundo: o dos dualismos e mitologias da modernidade capitalista ocidental, que empurra o planeta para o limiar do colapso ambiental. Orientados por coordenadas que têm tanto de metafísica como de política – um mundo sem nós, nós sem mundo, antes e depois do mundo actual –, os autores abordam as ameaças existenciais das alterações climáticas, evocando imagens de A Estrada, de Cormac McCarthy, Melancolia, de Lars von Trier, e d’O Cavalo de Turim, de Béla Tarr. Em diálogo crítico com Bruno Latour, Isabelle Stengers e os…
Dany Laferrière Antígona 2022 | 9789726084235 | 308 pp. 1976, Haiti. O Grito dos Pássaros Loucos (2000) narra o dia em que um mundo desaba e uma vida muda para sempre: as derradeiras horas de Ossos Velhos – alter ego de Dany Laferrière – em Port-au-Prince, antes de partir para o exílio no Canadá, e na sequência do assassínio do seu maior amigo pelas milícias do ditador Duvalier. A amargura da despedida e o doce aroma do café e do ilangue-ilangue fundem-se numa última ronda pelas ruas vibrantes da cidade – em bordéis e bares, cinemas e praças –, onde só uma pergunta ecoa: o exílio ou a morte? Obra de maturidade de Dany Laferrière e romance sobre o desenraizamento, O Grito dos Pássaros Loucos é também a história de um protagonista que, sob o signo de Antígona, reclama a liberdade de viver segundo a sua consciência e as suas paixões, sonhando com horizontes mais vastos do que «os universos estreitos e os céus baixos da ditadura».
Dany Laferrière Antígona 2022 | 9789726084198 | 152 pp. Montreal, um Verão escaldante nos anos 70. Dois negros sem tostão habitam um quarto exíguo: Cota – aspirante a escritor à la Bukowski e Miller, que, armado com uma Remington 22, quer mandar James Baldwin arrumar as botas – e Bouba, fanático por Coltrane, eremita que vive refastelado no divã a ler Freud e o Alcorão, e que ressona tão alto como o trompete de Miles Davis. Os dois levam uma alegre vida boémia de sexo e jazz e, em nome da desforra pela colonização, travam a luta racial na horizontal, assombrados pelo portento sexual do prédio – o Belzebu do Andar de Cima –, que ameaça desmoronar-lhes o tecto. Brilhante e provocador, traduzido em várias línguas, Como Fazer Amor com um Negro sem se Cansar (1985) é o romance de estreia de Dany Laferrière – em cujas páginas assistimos também ao nascimento de um escritor –, uma sátira feroz aos estereótipos e clichés racistas e às relações raciais na…
Silvina Ocampo Antígona 2023 | 9789726084266 | 104 pp. Num navio, uma mulher cai ao mar. À deriva, vê a vida inteira passar diante dos seus olhos e promete a Santa Rita, padroeira das causas impossíveis, escrever a sua história se sobreviver. Pessoas, lugares e lembranças afluem-lhe à memória, como destroços à tona da água, num oceano insondável e ameaçador, formando um poderoso dicionário de recordações. Publicada postumamente em 2011, A Promessa sofreu constantes reescritas desde os anos 60 e foi o labor dos últimos dias da autora, já atormentada pela doença.
Roland Topor Antígona 2023 | 9789726084211 | 168 pp. Adaptado ao cinema por Roman Polanski em 1976, O Inquilino Quimérico (1964) é, além de um clássico do humor negro com recortes kafkianos, uma obra que aborda temas decerto familiares a alguns leitores: má vizinhança, insonorização deficiente, devassa da vida privada – em suma, as maravilhas da propriedade horizontal. Quando o discreto Trelkovsky, um novo inquilino num prédio parisiense, se vê subitamente alvo do ódio dos vizinhos e de uma guerra sem motivo aparente, entra numa crise – imobiliária e existencial – com um desfecho imprevisível. A paranóia cresce na medida da hostilidade ao recém-chegado, e resta um dilema: submeter-se à maioria e às suas regras ou seguir o caminho da insanidade? «História de um homem que enlouquece devido à hostilidade do mundo que o rodeia», segundo o autor, O Inquilino Quimérico é uma perturbadora odisseia na alienação urbana e num labirinto de normas incongruentes e absurdas.
Sergio Solmi Barco Bêbado 2022 | 113 pp. «Como foi que mais tarde vim a amar as imagens belas, as estátuas, os monumentos onde o pensamento parecia ter conseguido reter até o seu acento, a sua flexão mais volúvel e secreta? As Idades, que dormiam absortas num espaço seu, imaterial e sumptuoso, a um primeiro entreabrir-se da memória recomeçavam a florir. A obra girava em torno do fulcro da sua existência renascida, vivia no esforço dos braços que a reerguiam uma vez mais à altura dos olhos, alada e respirante como uma criatura mortal. Colhendo a certeza inicial, a pulsação informe de onde brotara, o meu pensamento, sustido pelas linhas, iluminado pelas cores, tornava-se, ao segui-la, mais rigoroso e flexível do que uma música. E, chegado aos confins da criação, à extremidade do círculo encantado, o hálito destrutivo da vida surpreendia-me juntamente com um amargo sentimento do nada, quase um fino e orgulhoso temor de ter dominado o tempo, sem que ele…
Osvaldo Lamborghini Barco Bêbado 2022 | 127 pp. (inclui o texto de Leopoldo Fernández, que serviu de posfácio à edição primitiva de El Fiord) tradução e nota introdutória: Mariano Alejandro Ribeiro pinturas (capa e miolo):Theodore Ushev
Colson Whitehead Alfaguara 2022 | 9789897843877 | 408 pp. Ray Carney tem uma história semelhante à de várias outras do seu bairro. É vendedor de mobília, pai de família, homem pacato. Pouca gente sabe que ele descende de uma linhagem de rufiões e que, sob a aparência de normalidade, há várias pontas soltas no seu caminho. Como o dinheiro nem sempre chega, Ray desenrasca-se com esquemas trapaceiros e biscates pouco recomendáveis, à boleia das atividades ilícitas do primo Freddie. Mas há um dia em que os planos dão para o torto e Ray cai numa teia de corrupção, crime e pornografia, a que não faltam polícias duvidosos e arruaceiros sem escrúpulos. Começa aqui a sua vida dupla e Ray vai percebendo melhor quem realmente puxa os cordelinhos por ali. Um mistério policial entrelaçado com a história de uma família comum, encenado no fervilhante Harlem dos anos 60, sobre o pano de fundo do movimento dos direitos civis, numa época histórica irrepetível, que…
Carlo Levi Livros do Brasil 2022 | 9789897111907 | 240 pp. Pequeno conjunto de casinhas empilhadas sobre um precipício de argila branca, Gagliano surge aos olhos de Carlo Levi, naquela tarde de agosto de 1935, como uma terra às portas da civilização, da História, da humanidade. «Nós não somos cristãos», dizem os seus habitantes. «Cristo parou em Eboli.» Foi para esta localidade, na região empobrecida e isolada da Lucânia, no sul de Itália, que o médico, pintor e escritor se viu enviado para confinamento por oposição ao regime fascista de Benito Mussolini. Durante os cerca de dez meses que ali viveu, Levi refletiu sobre aquela paisagem, as suas gentes e a sua resignação à pobreza, à ruralidade, à perpetuação das crenças dos antepassados. Em 1945, publicou o testemunho desta experiência, uma narrativa envolvente na qual se mistura ficção, memória, registo sociológico, ensaio e literatura de viagem. Considerada a obra-prima de Carlo Levi, Cristo Parou em Eboli foi adaptada ao cinema e estudada nas…
Abdulrazak Gurnah Cavalo de Ferro 2022 | 9789896236250 | 296 pp. Fugindo de uma paradisíaca ilha de Zanzibar em plena revolução, Saleh Omar aterra no Aeroporto de Gatwick como requerente de asilo político, afirmando não saber inglês. Consigo traz apenas uma caixa de mogno contendo o mais requintado incenso e um passaporte falso. Para comunicar com ele, os serviços sociais recorrem ao seu conterrâneo Latif Mahmud, também ele exilado em Inglaterra. Quando os dois homens se encontram numa pequena cidade junto ao mar, este último acusa o primeiro de roubar a identidade do seu pai e de ser o responsável pela ruína da sua família. Será apenas o começo de uma longa história com duas versões diferentes, que liga os seus passados turbulentos durante e após a revolução, num ajuste final de contas. Romance magistral sobre a perda e a busca de identidade em terra de exílio, Junto ao Mar é uma história sobre honra, traição e redenção, que convida o leitor…
Andrei Kurkov Porto Editora 2022 | 9789720035981 | 372 pp. Ucrânia, região do Donbass, 2017 Pequena Starhorodivka é uma aldeia de apenas três ruas em plena Zona Cinzenta ucraniana, a terra de ninguém entre as forças nacionalistas e separatistas. Devido à violência constante de uma guerra que se arrasta há anos, todos os habitantes abandonaram a aldeia, menos dois: Sergey Sergeyich e Pashka, dois animigos de infância. Juntos, encontram formas de sobreviver, no meio de constantes bombardeamentos que não se sabe bem de onde provêm ou quais os seus alvos. Naquela aldeia, o conflito perdera há muito qualquer tipo de sentido. Sem eletricidade há meses, e com pouquíssima comida, Sergeyich tem um único prazer na vida: as suas abelhas. Com a chegada da primavera, o apicultor sabe que terá de as transportar para longe da Zona Cinzenta, onde elas poderão recolher o pólen em paz. Esta simples missão leva-o a conhecer combatentes e cidadãos dos dois lados da frente de batalha: nacionalistas,…
Camila Sosa Villada BCF 2022 | 240 pp. Uma primeira obra literária impressionante, sem miserabilismo, sem pena de si, As Malditas encontra o fulgor de uma vida sem limites através de uma linguagem de memória, inventividade, ternura e sangue. Um retrato de grupo contado através de uma releitura da mitologia, um manifesto explosivo sobre a força a dor e vontade de sobreviver de um grupo de travestis que queriam ser rainhas: «O que a natureza não dá, o inferno empresta.» Camila Sosa Villada nasceu em 1982 em Las Faldas, Córdoba, Argentina.
Maaza Mengiste Tinta da China 2022 | 9789896717032 | 504 pp. ETIÓPIA, 1935 Sob a ameaça iminente do exército fascista de Mussolini, Hirut, uma jovem que acaba de perder ambos os pais, esforça-se por se adaptar à sua nova vida como criada. O seu recente patrão — Kidane, oficial do exército do imperador Haile Selassie — está absorvido na missão urgente de reunir os melhores homens e de os preparar para a invasão italiana. Hirut e as outras mulheres anseiam por fazer mais do que tratar dos feridos e enterrar os mortos. Quando o imperador foge para o exílio e a Etiópia rapidamente começa a perder a esperança, é Hirut quem possibilita um plano para manter o moral. Mas como poderia ela prever que em breve enfrentaria a sua própria guerra pessoal, como prisioneira de um dos mais vis oficiais italianos? LIVRO FINALISTA DO BOOKER PRIZE 2020
Wole Soyinka Livros do Brasil 2022 | 9789897111716 | 544 pp. Numa Nigéria imaginada, um astuto empreendedor prospera vendendo partes de corpos para serem usadas em rituais. Quando o cirurgião Kighare Menka se apercebe de que o hospital onde trabalha se encontra no centro do fornecimento, decide-se a travar o macabro negócio. Recorre para isso ao seu antigo colega de escola, hoje um engenheiro reputado e bem-relacionado, Duyole Pitan-Payne, que está prestes a aceitar uma posição nas Nações Unidas, em Nova Iorque. Mas o caminho das investigações vê-se tragicamente barrado. Nem o doutor Menka nem Pitan-Payne imaginam quão próximo e quão poderoso é o inimigo que os ronda – e qual a extensão da teia que os circunda. Pérola literária com um engenhoso mistério para desvendar, recheado de ironia e crítica à corrupção política, social e religiosa, Crónicas do Lugar do Povo mais Feliz da Terra é um murro na mesa contra os abusos de poder, dado por um dos mais aguerridos ativistas…
Annie Ernaux Livros do Brasil 2022 | 9789897111853 | 96 pp. Uma jovem de 23 anos, estudante universitária brilhante, descobre que está grávida. Tomada pela vergonha, consciente de que aquela gravidez representará um falhanço social para si e para a sua família, sabe que não poderá ter aquela criança. Mas, na França de 1963, o aborto é ilegal e não existe ninguém a quem possa acorrer. Quarenta anos mais tarde, as memórias daquele acontecimento continuam presentes, num trauma impossível de ultrapassar e cujas sombras se estendem para além da história individual. Escrito com uma clareza acutilante, sem artifícios, este é um romance poderoso sobre sofrimento, justiça e a condição feminina. Escrito por Annie Ernaux em 1999, foi adaptado ao cinema em 2021 por Audrey Diwan, num filme vencedor do Leão de Ouro em Veneza.
Evguénia Bielorrussets Relógio D'Água 2022 | 9789897832789 | 152 pp. «Publicados na Ucrânia em 2018, estes contos de natureza surrealista, escritos por uma conhecida fotógrafa, revelam as experiências de mulheres da região do Donbass. Muitas delas escaparam ao conflito separatista surgido em 2014 e vivem agora como refugiadas em Kiev. Os contos, etnográficos na perspetiva mas gogolianos no registo, gravitam em torno de desaparecimentos inexplicáveis, memórias recalcadas e fantasmagorias. Bielorrussets escreve com “profunda penetração sobre o efeito de acontecimentos históricos traumáticos nas fantasias […] da vida quotidiana” e evoca o humor fatalista das suas personagens marginalizadas. “Se tiveste a sorte de nascer aqui, aceita-la como se tivesse de ser assim.”» [The New Yorker]
Olga Tokarczuk Cavalo de Ferro 2022 | 9789896236267 | 216 pp. Um médico escocês do século XVII, ao serviço do rei da Polónia, descobre uma estranha raça de crianças verdes. Uma família de quatro mulheres idênticas, que se podem ligar e desligar, vê a sua rotina ser perturbada pelo aparecimento de dois vizinhos. Um mundo onde impera o uso do metal mantém a sua ordem graças ao sacrifício de um misterioso semideus com mais de trezentos anos. Uma mãe deixa uma estranha herança de vários frascos de conserva ao seu filho preguiçoso. Eis algumas das histórias fascinantes que se encontram neste volume. Histórias capazes de desafiar expectativas e certezas, histórias que desenham os contornos de um presente alternativo e de um futuro apocalíptico; de confins geográficos que têm tanto de incompreensível quanto de familiar; de seres humanos alienados, solitários, perdidos. São histórias em que nada do que parece é e que encerram uma pergunta: a estranheza estará dentro de nós ou será…
J. D. Salinger Relógio D'Água 2022 | 9789897832482 | 216 pp. À Espera no Centeio é a história de um adolescente, expulso da escola três dias antes das férias de Natal, e que não tem coragem para regressar a casa e enfrentar os pais. Deambula durante esses dias e noites por Nova Iorque, entre descobertas, alegrias e medos.
George Orwell Relógio D'Água 2022 | 9789897832666 | 264 pp. George Bowling, de quarenta e cinco anos, casado, com filhos, é um vendedor de seguros com um desejo desesperado de escapar à sua vida monótona. Receia os novos tempos — em 1939, a guerra estava iminente —, as filas para as senhas de alimentação, os soldados, a polícia secreta e a tirania. Por isso, decide voltar para o mundo da sua infância, a vila que recorda como um paraíso rural de paz e tranquilidade. Mas o que irá encontrar quando lá chegar?
Françoise Sagan A Casa dos Ceifeiros 9789898776648 | 180 pp. Há livros que são para sempre. Bom Dia, Tristeza é um deles. Romance de formação, publicado no inicio dos anos 50 em França por uma menina de 19 anos, tornou-se um dos maiores best seller mundiais. Com várias edições em Portugal, estava, no entanto, há mais de 10 anos fora das livrarias. A Casa dos Ceifeiros tem o prazer de o reeditar, com os desenhos da primeira edição portuguesa de Mily Possoz e a tradução excelente de Isabel St. Aubyn.
Ramón Gómez de la Serna Maldoror 2022 | 9789899105119 | 186 pp. Tradução de Joana Morais Varela «[Em] A Quinta de Palmyra, uma autêntica "sinfonia portuguesa", como a definiu Larbaud, um romance profundamente lírico, assistimos às relações amorosas da protagonista, com um atrevido final de cariz homoerótico. Dá-se nas suas páginas lugar ao debate entre cosmopolitismo e provincianismo, entre passado e futuro [...] num espaço físico onde se cria um tempo fora do tempo [...]. e em que assistimos a uma profunda relação orgânica entre as personagens e o sitio onde habitam. Como símbolo do país "utópico" em que Ramón, sempre individualista e único, se sentiu como na própria casa, sem evitar, por vezes, a sua visão crítica.» ANTONIO SAEZ DELGADO SANTIAN PEREZ ISASE
Ramón Gómez de la Serna Maldoror 2022 | 9789899105058 | 68 pp. Tradução de Sofia Castro Rodrigues Prólogo de Rafael Flores Montenegro RAMÓN GÓMEZ DE LA SERNA tem, talvez mais do que qualquer outra coisa, o direito de ser considerado verdadeiramente ibero-americano: como espanhol e madrileno, instalou-se em Buenos Aires, e interessou-se especialmente pelas formas peculiares da cultura rio-platense com projecção universal. Neste livro, Ramón declara antes de tudo a sua paixão pelo tango: «Sou um admirador do tango e fiz a sua defesa e apologia há muitos anos em Espanha e em Paris.» Mas vai ainda mais longe, como assinala Rafael Flores no Prólogo ao dizer que «Ramón tem razão quando sente uma ligação entre a payada e as letras do tango». Às vezes, numa simples frase, Gómez de la Serna ilumina todo o sentido da sua Interpretação: «Outras músicas são tocadas para que as feridas se fechem, mas o tango toca e canta para que se abram, para que continuem…
Maryse Condé Maldoror 2022 | 9789895360505 | 264 pp. Eu, Tituba, Bruxa... Negra de Salem foi publicado pela primeira vez em 1986, e conta a história de Tituba, mulher negra, escrava, julgada e condenada no célebre julgamento das bruxas de Salem, de 1692. Maryse Condé traz-nos a incrível história desta mulher, valendo-se da imaginação para compor os pormenores que o tempo ocultou, e recorrendo aos mesmos fios que tecem e orientam toda a sua obra literária: a escravatura, a influência do colonialismo na cultura e na história das Antilhas, as raízes africanas, a condição feminina e a condição do negro no mundo.
Marguerite Duras Relógio D'Água 2014 | 9789896414399 | 96 pp. «— O que quer dizer moderato cantabile? — Não sei.» Uma lição de piano, uma criança teimosa, uma mãe que ama o filho, não há expressão mais autêntica da vida tranquila numa cidade da província. Mas um súbito grito vem rasgar a trama, revelando sob a contenção de uma narrativa de aparência clássica uma tensão que vai crescendo até ao paroxismo final. «Porque é que o grito súbito de uma desconhecida e a visão do seu corpo ensanguentado perturbaram de tal modo Anne Desbaresdes, que é uma mulher jovem e rica, ligada apenas ao seu filho? Porque é que voltou ao café do porto, onde o cadáver da desconhecida desabara ao cair do dia? Porque é que interroga um outro desconhecido, Chauvin, uma testemunha como ela? Uma estranha embriaguez apodera-se dela, os copos de vinho que pede, e que bebe lentamente, são apenas pretextos. Volta todos os dias ao local do crime…
Amadeu Lopes Sabino Relógio d'Água 2022 | 9789897832369 | 152 pp. "No decorrer da nossa conversa privada, Anne-Marie tinha-me dito que, aos sábados de manhã, ia ao mercado da place Flagey comprar frutas e legumes frescos. Seria acaso da conversa ou código de reencontro? Era vegetariana às vezes, disse rindo, outras vezes carnívora, outras tudo, outras nada. No sábado seguinte ao jantar oferecido ao príncipe, saí cedo de casa, armado de gabardina e guarda-chuva, e às oito e meia estava sentado a uma mesa chegada à vitrina do café Flagey, na esquina da chaussée d’Ixelles, lugar ideal para observar o movimento na praça. Uma hora mais tarde já tinha lido duas vezes as gordas do Le Soir, fumado um maço de cigarros e bebido três supostos cafés de filtro, mais precisamente três chávenas de água com cheiro a café. Chuviscava e fazia frio no exterior. Apesar dos vidros embaciados da vitrina, não perdi uma imagem do que se passava no mercado, mas…
Karel Čapek Antígona 2022 | 9789726083856 | 208 pp. Quando, na senda do progresso, o mundo assiste à descoberta de um engenho capaz de produzir energia ilimitada por tuta-e-meia, poucos adivinhariam que esta maravilha moderna teria um grave efeito secundário: a libertação do inquietante Absoluto, a essência espiritual contida na matéria, que converte todos os seres - dos mais mundanos aos levianos - em fervorosos fanáticos religiosos. Rapidamente o planeta está a braços com uma epidemia de religiosidade e vê a sua população transformada em multidões de crentes, que ora fazem milagres, ora pregam o amor ao próximo, e que, em breve, querem converter por todos os meios as nações vizinhas à sua verdade, indiscutivelmente a suprema e a melhor, desencadeando uma inevitável guerra global. O romance A Fábrica do Absoluto (1922), sátira brilhante e premonitória que não ganhou uma ruga, é agora publicado em tradução directa do checo, com desenhos de Josef Capek (1887-1945), o irmão do autor, retirados da edição original.
Gerrit Komrij Guerra & Paz 2022 | 9789897027413 | 168 pp. Um Almoço de Negócios em Sintra é um sublime livro que nos mostra a visão do autor Gerrit Komrij sobre Portugal e sobre os portugueses. Será a nossa portuguesíssima realidade a matéria deste Almoço de Negócios? Pode dizer-se que sim se soubermos que factos, situações e personagens levam também um banho de ficção. Tendo escolhido Portugal como o país para viver, esta marcante figura da vida intelectual neerlandesa mergulha nas nossas vidas, desmascarando as nossas virtudes e defeitos aos olhos de um estrangeiro que tudo estranha. e deixa-se, depois, como o Balzac das Cenas da Vida Privada, assaltar pela doçura de alguém que se apaixonou pela terra e pela sua gente. Narrativa híbrida, Almoço de Negócios é um misto de conto, crónica e memória, e mostra-nos o olhar satírico, enternecedor e humano do autor, numa linguagem mordaz, natural, brilhantemente vertida para o português por Fernando Venâncio, linguista e autor de Assim Nasceu…
Olivier Bourdeaut Guerra & Paz 2022 | 9789897028267 | 190 pp. À Espera de Bojangles, extraordinário livro de estreia de Olivier Bourdeaut, é um bestseller agraciado com vários prémios e adaptado ao teatro e ao cinema, tendo-se tornado num romance de culto, fascinando o público e a crítica desde o seu lançamento. Este romance cómico, trágico e singular é uma história, contada por uma criança, do amor louco de um encantador casal excêntrico que teimosamente se recusa a contentar-se com a realidade e prefere inventar fantasias, à beira-mar espanhola, ao som da canção da americana Nina Simone. Nunca a expressão amor louco foi usada com tanta propriedade. o optimismo das comédias de Frank Capra, aliado à fantasia da Espuma dos Dias, de Boris Vian.
Graça Pina De Morais Antígona 2022 | 9789726084129 | 248 pp. «A Origem é o romance mais conseguido de Graça Pina de Morais, pela profundidade e penetração psicológica das personagens. Centrado numa casa rural e dividido em quatro grandes sequências — “A Casa”, “O Amor”, “A Morte” e “O Encontro com Deus” — este romance acompanha ao longo de várias décadas a saga da família do velho Leonardo e dos seus filhos e netos, descrevendo uma atmosfera progressivamente matriarcal em que sobressaem as personalidades fortes de Constança, Maria Clara e do seu sobrinho João Vasco, um jovem para o qual confluem todos os afectos (por vezes contraditórios) das mulheres da Casa do Outeiro. Assim se vai criando um clima denso, que avoluma a sensação de um destino familiar comum às personagens, interrogando ao mesmo tempo o mistério da existência e alguns paradoxos do comportamento humano.» Fernando Pinto do Amaral
Silvina Ocampo Antígona 2022 | 9789726084150 | 280 pp. Obra de maturidade e um dos livros mais aplaudidos da autora, As Convidadas (1961) reúne, ao bom estilo ocampiano, quarenta e quatro histórias inquietantes sobre os seus temas de eleição — a infância, o amor, a loucura, o fantástico —, entre os quais O Diário de Porfiria Bernal — a assombrosa metamorfose de uma preceptora —, A Revelação — as visões à cabeceira de um moribundo — e o conto que dá nome à colectânea. Janela aberta para o sobrenatural quotidiano, que assoma aos seres sensíveis em espectros e aparições, a impiedosa escrita de Silvina Ocampo, à semelhança das personagens que cria, é tributária de uma rigorosa imaginação e de uma enganadora ingenuidade, capaz de ternura e de terror, como quem quisesse «mostrar-nos o Céu para depois nos atirar para o Inferno».
TJ Klune Desrotina 2022 | 9789899096639 | 400 PP. Linus Baker leva uma vida solitária e sossegada. Aos quarenta anos, vive na cidade, onde só chove e os dias são cinzentos, numa velha casa, na companhia de uma gata mal-humorada e dos seus discos de vinil. Como funcionário de um departamento que cuida e protege crianças com poderes mágicos, Linus recebe uma tarefa altamente secreta: viajar para para o orfanato da ilha Marsyas, dirigido pelo charmoso e enigmático Arthur Parnassus. No local residem seis crianças com capacidades potencialmente perigosas: um gnomo de 200 anos, uma fada da floresta, uma serpe, um rapaz que se transforma num lulu-da-pomerânia, uma bolha verde amorfa e o Anticristo. Linus deve pôr de lado os seus medos e perceber se eles podem, ou não, trazer o fim dos dias. As crianças não são, no entanto, o único segredo da ilha. No final, uma decisão terá de ser tomada por Linus Baker: destruir um espaço e uma família…
Frederico Lourenço Quetzal 2022 | 9789897224799 | 512 pp. Pode Um Desejo Imenso conta a história de Nuno Galvão, professor universitário de Literatura, que pensa ter descoberto a chave para a compreensão da poesia lírica de Camões: a paixão do poeta pelo jovem D. António de Noronha, de quem Camões teria sido precetor. Nuno está ele próprio apaixonado por um estudante, em quem projeta a história de amor por si imaginada entre o poeta quinhentista e o seu aluno. Na parte central do livro, a narrativa volta atrás, aos tempos em que o próprio Nuno era estudante, já nessa altura ocupado com a poesia lírica de Camões e com a paixão não correspondida por um colega de curso. No final do romance, juntam-se os vários fios da história; e Nuno acaba por aprender como rumar «em direção à outra margem», onde se abre a hipótese possível de um amor feliz. Vinte anos depois da primeira edição, esta é a versão definitiva de…
Sara Stridsberg Bertrand Editora 2022 | 9789722539746 | 328 pp. Em abril de 1988, Valerie Solanas - escritora e feminista radical que tentou assassinar Andy Warhol - era descoberta sem vida num quarto do Bristol Hotel em São Francisco. Tinha 52 anos, estava sozinha, sem quaisquer recursos e rodeada pelas páginas datilografadas dos seus últimos escritos. Em A Faculdade dos Sonhos, Sara Stridsberg revisita o hotel onde Solanas morreu, a sala de audiências onde foi julgada e condenada por tentativa de homicídio de Warhol, a paisagem desoladora na Georgia onde passou a sua infância e as instituições psiquiátricas onde esteve internada. Através de conversas e monólogos imaginados, reminiscências e fragmentos de discurso, Stridsberg reconstrói uma das mais intrigantes e enigmáticas mulheres, articulando os pensamentos e os medos por que Solanas passou para poder expressar a sua personalidade, outorgando à autora de SCUM Manifesto uma poderosa e comovedora voz.
Arthur Larrue Quetzal 2022 | 9789897227691 | 312 pp. A vida inacreditável de Alexandre Alekhine, conhecido com «o sádico do xadrez», «mais imoral do que Jack, o Estripador», consagrado pelo Czar, perseguido por Estaline, chantageado por Goebbels - e que morreu no Estoril, só e em circunstâncias dramáticas. Campeão mundial, russo branco, naturalizado francês, Alexandre Alekhine (Moscovo, 1892-1946) joga a sua vida como as suas próprias partidas de xadrez (arrebatou o título mundial de xadrez contra o lendário Raúl Capablanca aos 35 anos), de vitória em vitória e de continente a continente. Em Buenos Aires foi apanhado pelo começo da II Guerra Mundial, em 1939. Mobilizado e obrigado a regressar a Paris, testemunhou o colapso do seu país de adoção; instrumentalizado e sitiado pelos novos donos da Europa, é obrigado por Joseph Goebbels a participar em torneios nos novos territórios do III Reich. De jogador, transforma-se em objeto de jogo. As suas peças-chave caem no tabuleiro da sua vida: a sua mulher,…
Michel Houellebecq Alfaguara 2022 | 9789897845383 | 648 pp. Aniquilação projeta diante do leitor um futuro próximo, à luz melancólica do declínio do Ocidente, um dos grandes temas de Michel Houellebecq. O romance abre com uns bizarros vídeos que se tornaram virais online num deles, o ministro da Economia francês é guilhotinado. Logo a seguir, há uma série de atentados terroristas. Estes acontecimentos lançam o alarme em França, onde decorre uma fervorosa campanha para as eleições presidenciais, na qual reconhecemos vários dos peões do jogo político europeu atual. Qualquer semelhança com pessoas reais é puramente deliberada. O protagonista, Paul Raison é uma personagem maior que a vida. Alto funcionário ministerial, aproxima se dos cinquenta anos e acomodou se à miséria afetiva e sexual. Prudence a sua mulher, tornou se vegan e adepta do Wicca, um movimento religioso neopagão. O casal vive num apartamento em Paris, onde se cruza cada vez menos. É a partir deste cenário que Aniquilação entretece dois fios distintos o público e…
Angeline Boulley Desrotina 2022 | 9789899096462 | 480 pp. Daunis Fontaine, uma jovem de dezoito anos, filha de pai indígena e mãe branca, sempre se sentiu deslocada, quer na sua cidade natal, quer na sua muito próxima reserva indígena Ojibwe. Ambiciona uma oportunidade para começar tudo de novo na Universidade do Michigan, porém os seus planos são interrompidos por contratempos familiares que a levam a ter de ficar e cuidar da sua frágil mãe. O único lado positivo desta situação é conhecer Jamie, um novo jogador que chega para integrar a equipa de hóquei no gelo do seu irmão Levi. Sentindo-se cada vez mais atraída por Jamie, desconfia, ainda assim, de que ele esconde um segredo. E tudo muda quando Daunis testemunha um assassínio chocante, que a torna numa informadora para o FBI, numa investigação sobre a circulação de uma nova droga letal. Aproveitando os seus conhecimentos de química e de medicina tradicional Ojibwe, Daunis vai descobrindo velhos segredos e expondo os…
Leonora Carrington Snob 2022 | 168 pp. Em Baixo dá-nos um relato impiedoso da experiência da loucura. Como um acto de verdadeira narrativa da memória, vai buscar o seu poder a esta antinomia no seu centro, que é ser uma narrativa racionalmente composta e acuradamente relembrada em aparência, sobre comportamentos assustadoramente cruéis e ensandecidos, terapias científicas que induziam estados de aniquilação pessoal. Breton encorajou Leonora a escrevê-lo; do seu ponto de vista, a artista inglesa, musa selvagem, femme-enfant, havia concretizado uma das mais desejadas ambições do surrealismo, a catábase da era moderna, a viagem ao outro lado da razão. Leonora havia experienciado verdadeiramente a disfunção que Breton e Paul Éluard apenas tinham conseguido simular em L’Imamaculée Conception em 1930. Enquanto testemunho dos horrores da psicose, evidência dos tratamentos médicos e da terapia de droga convulsiva, Em baixo entra na categoria de ficção autobiográfica dessas condições desesperadas, tal como relatadas em The Sugar House de Antonia White, A Campânula de Vidro de Sylvia…
Thea von Harbou E-Primatur 2021 | 9789898872371 | 292 pp. Pela primeira vez em Portugal, um dos primeiros grandes romances distópicos do século XX que deram origem a um filme mítico. No ano de 2026, a cidade de Metrópolis é uma potência no domínio da tecnologia e da qualidade de vida. Os seus habitantes alternam sucessivamente diversas experiências, numa existência animada feita de trabalhos leves, muita cultura, ciência e também devassidão. Mas a grande cidade vive dos trabalhadores do submundo, os seres que geram energia e são a força de trabalho que mantém a aparência imaculada de Metrópolis. Assim, estas duas classes sociais absolutamente separadas caminham para um confronto. Pelo meio há uma história de amor impossível, robots, clonagens e muitas invenções que antecipam o futuro. Publicado originalmente em 1925 em folhetim, ao mesmo tempo que a sua autora, então esposa de Fritz Lang, escrevia o argumento do filme, aparece em formato de livro em 1926, um ano antes da esteia do…
Isaac Babel Relógio d'Água 2022 | 9789897832406 | 96 pp. «A Odessa de Babel é um lugar único, é uma amálgama de objetos, de sensações, de cores, de cheiros. Tudo se pode tocar, cheirar e provar. E a língua de Odessa não é exceção. As palavras são personificadas e podem ser metidas no bolso, podem ser apalpadas, podem ser seguradas entre os dentes. A fala de Odessa é uma fonte de divertimento do autor. As personagens exprimem‑se principalmente em russo, mas o seu discurso está salpicado de incoerências ou de construções agramaticais, espelhando a influência do ucraniano, do iídiche, do moldavo, do francês e do inglês, entre outros idiomas. Outras vezes fazem a transferência direta do hebraico antigo na referência aos numerais (exemplo: “sessenta vacas leiteiras, menos uma”, em vez de dizerem simplesmente cinquenta e nove). Muitas estruturas são também conseguidas a partir de construções em iídiche. Pode pois dizer‑se que os habitantes de Odessa falam uma língua singular que não existe…
Tété-Michel Kpomassie Tinta da China 2022 | 9789896716646 | 360 pp. «Tété‑Michel, um jovem negro, filho de uma família tradicional africana, com oito mães, as oito esposas do progenitor, nascido num bairro periférico da cidade de Lomé, fez‑se a si próprio descobridor. O ‘esquimó africano’, como foi cognominado num documentário que a BBC lhe dedicou, rompeu com uma trágica sina secular, fugindo de casa aos 16 anos [em 1958], para só regressar aos 27. O Africano da Gronelândia é, a vários títulos, um livro como nenhum outro. A minúcia colocada na observação do quotidiano (as viagens de trenó, a caça às focas, a aurora boreal) e o detalhe com que Tété‑Michel descreve a forma como se integrou numa sociedade radicalmente diferente daquela de onde veio (com a troca de casais à vista de todos, a prática do sexo na presença dos filhos, o problema do alcoolismo) fazem‑nos descobrir como o mundo pode ainda ser um lugar surpreendente.» — Carlos Vaz Marques, Prefácio
Bohumil Hrabal Antígona 2022 | 9789726083818 | 136 pp. Pérola de humor, heroísmo e humanidade, Comboios Rigorosamente Vigiados (1965) leva-nos a uma pacata estação ferroviária na Checoslováquia ocupada pelos nazis, nos últimos dias da guerra na Europa. Entre o rame rame de chegadas e partidas, gélidos cais e ruidosos vagões e locomotivas, esvoaçam os pombos predilectos do chefe de estação, asas de aviões tombam no jardim do reitor da vila, a telegrafista arrebata corações e Miloš Hrma morre de amores pela bela Máša. Este tímido e jovem aprendiz dos caminhos-de-ferro estatais – que herdou um hilariante historial de família, saborosamente contado por Hrabal, no qual assoma um avô que quis deter os tanques alemães pelo poder da hipnose – também um dia se decide a desafiar os invasores, demonstrando que a resistência habita por vezes os homens e os locais mais improváveis.
Victor Segalen Sistema Solar 2022 | 9789895680054 | 144 pp. Em 15 de Abril de 1906 surgiu na revista Mercure de France o seu texto «O Duplo Rimbaud». Em cada um de nós, dirá Segalen, e para cada uma das nossas formas de pensar, de querer e sentir, existe um irredutível e não utilizável covil que não podemos, com complacência ou à força, com ódio ou amor, entreabrir aos outros. Estaremos perante um labirinto onde os leitores não encontram nenhuma saída? Segalen faz-nos crer que Rimbaud fala sempre de si próprio, com uma chave que só ele sabe utilizar; que os seus poemas são imaginadas memórias das coisas e dos dias da sua infância, e só ele os compreende na sua integralidade. Depois desta análise passa ao «segundo» Rimbaud, o de uma «curiosa e intensa fobia»; o que tem «horror à poesia», di-lo a sua irmã categórica e, por decisão, detentora de uma única e irrecusável verdade. [Aníbal Fernandes] Rimbaud foi outra coisa além…
Lafcadio Hearn Sistema Solar 2022 | 9789898833983 | 148 pp. […] Antes deste Lafcadio Hearn dominado pela sedução japonesa há, portanto, o Lafcadio das «lamentáveis odisseias na Europa e na América», onde encontramos o autor de Chita, o seu primeiro romance, de 1887, no Harper’s Magazine de Nova Iorque, e dois anos depois em livro numa versão ligeiramente modificada. O japonês Yakumo Koisumi teve como o seu primeiro nome inteiro Patricio Lafcadio Tessima Carlos Hearn, o que lhe foi dado quando nasceu no ano 1850 em Lêucade, uma ilha do Mar Jónico nessa altura sob ocupação inglesa e hoje pertencente à Grécia. […] Os seus seis anos de Cincinnati tiveram de ser prolongados por outros, agora no jornalismo de Nova Orleães, a cidade do Mississipi racialmente mais permissiva, e desta vez na redacção de Le Commercial. Foi ali, numa confusão urbana que misturava o inglês, o francês, o espanhol, e fazia nascer variantes crioulas, inventoras de palavras com ecos de todas estas línguas, que Lafcadio Hearn…
Max Ernst Sistema Solar 2022 | 9789898902603 | 188 pp. O poeta é um lobo para a poesia. Combate-a, tira-lhe o valor e destrói-a à dentada e com garras longas. Alimenta-se dela. Tal como na luta eterna, a do combate sem tréguas dos amantes, uma paixão forte como o ódio e a morte une e opõe ao mesmo tempo o poeta e o seu superior ideal. Sem este gosto pelo crime e pelo sangue, não há neste domínio obra válida. É este gosto do crime, este sabor a sangue, que caracterizam a obra de Max Ernst, e em particular A Mulher 100 Cabeças; que é, de algum modo, a soma das suas buscas. Para o poeta não há alucinações. Há o real. E é ao espectáculo de uma realidade mais extensa do que a vulgarmente conhecida, que o inventor destas colagens nos convida. É um novo domínio adquirido à memória pela imaginação, uma colónia conquistada à liberdade do sonho, em proveito do imperialismo…
Patrik Ourednik Antígona 2022 | 9789726084143 | 176 pp. De Paris à Casa Branca, o tradutor Gaspard Boisvert — ex-conselheiro do «presidente americano mais estúpido da história do país», criador de slogans para bebidas espirituosas e plausível bisneto de Hitler — tenta escapar incólume ao processo mundial de estupidificação em curso. Porém, atormentado por frases como «a democracia ocidental é o estádio derradeiro duma sociedade avançada», «a excisão do clítoris constitui um facto cultural» ou «é preciso saber prever com antecipação», acaba por sucumbir a um esgotamento nervoso. A história de Gaspard dá o mote a um narrador empenhado em fornecer estatísticas embaraçosas da espécie humana — brinquedos sexuais favoritos, recordistas sanguinários, restrições alimentares dos devotos, etc. —, neste romance carregado de humor à Hašek e ironia à Rabelais, na senda de Europeana (Antígona, 2017). O Fim do Mundo Não Terá Acontecido (2017) revela um Patrik Ouredník fascinado com o apocalipse, lançando-se com unhas e dentes aos lugares-comuns do discurso e ao…
Lima Barreto Penguin Clássicos 2022 | 9789897843341 | 352 pp. Ambientado no final do século XIX, o romance narra a história do major Policarpo Quaresma, nacionalista extremado que engendra planos sublimes para o seu amado Brasil: uma nação que fale tupi-guarani, alicerçada numa economia agrícola. Patriótico fanático, os seus sonhos transformam-se na sua derrocada, qual dom Quixote, e os projetos em que se envolve para defender a nação falham desastrosamente. Com uma literatura engajada e realista, professor de ideias sociais e políticas progressistas, Lima Barreto, um dos mais importantes escritores brasileiros da modernidade, foi um crítico feroz das desigualdades e hipocrisia da sociedade brasileira. O seu visionarismo e militância custar-lhe-iam a indiferença e desprezo dos seus contemporâneos, mas seriam o motor para uma obra vasta, relevante e sempre atual, que viria a influenciar toda a literatura brasileira que se lhe seguiria. Publicado pela primeira vez em 1911, o satírico Triste Fim de Policarpo Quaresma é um clássico imperdível da literatura brasileira que…
Olga Ravn Elsinore 2022 | 9789896233389 | 144 pp. A milhões de quilómetros da Terra, num futuro longínquo, humanos e humanoides trabalham lado a lado a bordo da nave Seis-Mil. São meros funcionários. Uns nascem e morrem; outros são criados e vivem para sempre. O contacto próximo com um conjunto de objetos estranhos recolhidos no planeta Nova Descoberta altera inesperadamente o comportamento da tripulação e a perceção que cada um tem de si mesmo. Uma comissão de avaliação é chamada para recolher depoimentos e aferir os efeitos desta ligação. Serão os objetos sencientes? Estarão os humanoides a tornar-se mais humanos? Trabalhar será o mesmo que viver? Considerado pela crítica internacional uma revelação literária, Os Funcionários é um romance de ficção científica, poético e que, à laia de uma distopia moderna, lança uma crítica à supremacia do trabalho e da lógica da produtividade, ao mesmo tempo que explora as noções de identidade e felicidade.
Susan Taubes Cavalo de Ferro 2022 | 9789896233396 | 296 pp. Livro parcialmente autobiográfico, que conjuga ficção, memória e sonho, Divórcio é considerado uma das mais entusiasmantes redescobertas literárias do momento, que coloca Susan Taubes ao lado das maiores figuras da literatura contemporânea. Um romance inovador e brilhante sobre o colapso de um casamento, mas acima de tudo a descrição do abismo que se abre entre uma mulher e o seu mundo interior e exterior. Sophie Blind, a protagonista desta história, revisita o passado e interpreta o presente, escava os recantos da sua consciência, por meio de episódios fragmentados, avanços e recuos — para descobrir no seu casamento, e no dos seus pais, um processo de anulação de si própria e de crescente atracção pela morte, somente interrompido pelo acto da escrita. Divórcio foi publicado em 1969 e, à época, largamente ignorado. Com a morte precoce por suicídio da sua autora acabou por cair no esquecimento. Experimental, negro e espirituoso, é o…
Anne Webber Dom Quixote 2022 | 9789722074711 | 176 pp. Que vida! Nascida em 1923, na Bretanha, criada num meio humilde, Anne Beaumanoir foi, desde muito jovem, membro da Resistência comunista francesa e salvou dos ocupantes nazis dois adolescentes judeus, tendo sido premiada com a distinção Justos entre as Nações, instituída pelo Memorial do Holocausto Yad Vashem. Depois da Segunda Guerra Mundial, exerceu a especialidade de neurofisiologia em Marselha. Em 1959, foi condenada a uma pena de dez anos de prisão por se ter envolvido no movimento de luta pela independência da Argélia. Deixou-nos a 4 de março de 2022, com noventa e oito anos, e, até ao fim, deu testemunho vivo, em muitas escolas, da importância da desobediência. Anne Weber narra a vida inverosímil de Anne Beaumanoir, nesta brilhante epopeia biográfica de uma heroína. Os episódios da sua vida, escritos com grande mestria, levantam diversas questões: O que leva alguém a fazer parte de um movimento de resistência? O que tem de…
Philip Roth Dom Quixote 2000 | 9789722041102 | 488 pp. Teatro de Sabbath é uma criação cómica de proporções épicas, e Mickey Sabbath o seu herói gargantuesco. Antes um escandaloso e inventivo saltimbanco, Sabbath, aos 64 anos, continua audazmente antagónico e excessivamente libidinoso. Mas depois da morte da sua amante de longa data - um erótico espírito livre, cuja audácia adúltera excede até a sua - Sabbath embarca numa turbulenta viagem ao passado. Desolado e só, cercado pelos fantasmas daqueles que mais o amaram e odiaram, encena uma série de absurdas catástrofes que o levam aos limiares da loucura e da extinção.
Lorena Salazar Masso Guerra & Paz 2022 | 9789897027222 | 144 pp. Um maravilhoso romance de estreia sobre raízes, medo e maternidade em um contexto de violência Este é o livro da subida de um rio. Uma mãe branca, com o seu filho negro, sobe o rio Atrato, na Colômbia. Vai levar o filho que criou à mãe negra biológica. Quererá a mãe negra reclamar agora a criança? É uma viagem, mas é também uma reflexão sobre a beleza e a dor da maternidade. O que é uma mãe? Uma mãe – diz-nos este romance – é uma coisa que dói. É ferida e cicatriz, é fingir que vences o medo. Na viagem, surgem os outros protagonistas da história: o rio, que abençoa e afoga; o sentimento profundo de pertença a uma paisagem; as relações de cumplicidade das mulheres; a violência terrível da selva colombiana; a dificuldade de se ser mulher e mãe num mundo cheio de perigos. Um fulgurante romance de…
Shalom Auslander Guerra & Paz 2022 | 9789897027215 | 216 pp. Humor, escândalo e provocação: os temperos deste Mãe Para Jantar, romance do mais provocador dos escritores judeus americanos, Shalom Auslander, que nos apresenta um olhar hilariante e cínico sobre o fardo da tradição que pesa sobre as minorias étnicas que tomam a opressão como identidade, através de uma premissa tão genial quanto grotesca: e se tivesse de comer a sua mãe para receber a sua herança?
Abdulrazak Gurnah Cavalo de Ferrro 2022 | 9789895649662 | 304 pp. Após fugir da aldeia onde nasceu, numa região fustigada pela pobreza, pela fome e pela doença, o jovem Ilyas chega a uma pequena cidade costeira onde assiste a um desfile da Schutztruppe, a feroz «tropa de protecção» da África Oriental Alemã. Anos mais tarde, perante a iminência de uma grande guerra entre Britânicos e Alemães, que estalaria em Tanga, em 1914, Ilyas decide juntar-se a esse mesmo exército de mercenários africanos, prometendo à sua irmã mais nova voltar muito em breve. A promessa fica por cumprir, e o paradeiro desconhecido do irmão ensombra a vida de Afiya até que ela conhece Hamza, um desertor generoso e sonhador que conseguiu escapar aos horrores da guerra. Entre ambos nascerá uma história de amor improvável que ligará as duas famílias, e os continentes africano e europeu. Entrelaçando história e ficção, Vidas Seguintes é um romance lúcido e trágico sobre África, o legado colonial e as atrocidades…
Harry Crews Maldoror 2021 | 9789895311576 | 207 pp. «Nunca lhe tinham apresentado ninguém que pertencesse a um clube de debate, e Joe Lon não sabia bem o que dizer, porque não sabia ao certo o que era isso. Provavelmente, algum daqueles desportos estrangeiros, de maricas, como o futebol europeu. Alguém que jogasse essa merda só podia ser um brochista, pensou Joe Lon.»
Stefan Themerson Dois Dias Edições 2015 | 9789899736269 | 188 pp. Apollinaire encontrou finalmente um pai — Cardeal Pölätüo —, um pai na melhor tradição do ser pai, crítico do seu filho delinquente juvenil — nascido poeta e assim feito por sua mãe, que o carregou o tempo adequado a um génio e, como tal, um irresponsável e conspirador secreto. Tal como Abraão, Cardeal Pölätüo está disposto (determinado, na verdade) a sacrificar o seu filho — o que Abraão apenas fez em resposta a Deus. Cardeal Pölätüo é responsável perante uma augusta instituição a cujos olhos o homicídio da Alma (seduzindo a fé para longe do seu dono por direito) é infinitamente pior do que o homicídio do corpo. O Cardeal envelhece para se deliciar na beleza pura do batom rosa-nacarado na sua mão, e para compilar a Filosofia do Pölätüismo — um tratado para uma boa relação entre religião e ciência, à glória de Deus.
Josep Roth Assírio & Alvim 2022 | 9789723721720 | 88 pp. Na pequena aldeia de Lopatyny, situada na antiga Galícia Oriental, onde o próprio Roth nasceu, vive o velho conde Franz Xaver Morstin. Relíquia do derrotado Império Austro-Húngaro, é obrigado a conformar-se com a diminuição do seu estatuto e com as trágicas mudanças ocorridas na Europa após a Primeira Guerra Mundial. Só um busto em arenito barato, representando a figura do Imperador Francisco José, feito «pela mão desajeitada dum jovem camponês» e colocado em frente à sua casa lhe dá a vã ilusão de nada ter mudado… Se esta novela de Roth, escrita no exílio francês e publicada no jornal parisiense de língua alemã Pariser Tageblatt, em 1935, constitui, por um lado, uma tentativa de fuga da realidade que se vivia na altura na Alemanha e na Áustria para a sua remota Galícia, por outro, representa uma defesa utópica dos valores de tolerância resultantes do cosmopolitismo, que era o traço essencial do…
Fredrik Backman Porto Editora 2022 | 9789720035042 | 368 pp. Visitar um apartamento que está à venda não costuma redundar numa situação de perigo. A menos que seja antevéspera de Ano Novo, e um ladrão inexperiente tenha decidido assaltar um banco onde não há dinheiro. Quando assim é, torna-se inevitável que não haja sequer um plano de fuga, e se acabe com uma data de reféns acidentais. Felizmente, podemos confiar na pronta intervenção das autoridades. A menos que os dois polícias responsáveis pelo caso não se entendam nem saibam o que fazer. Ainda assim, acreditamos que tudo correrá bem, em particular se os reféns permanecerem calmos. A menos que sejam os reféns mais idiotas de todos os tempos: uma analista bancária com ideias suicidas, uma adorável velhinha com motivações pouco transparentes, um casal reformado com uma paixão enorme pelo IKEA, duas recém-casadas, prestes a serem mães, que andam sempre às turras, uma agente imobiliária com entusiasmo a mais e talento a menos,…
Isabel Allende Porto Editora 2022 | 9789720035295 | 360 pp. É uma história que nos enche as medidas. Sentimo-nos saciados quando chegamos ao fim. E cheios de esperança. Porque ainda vamos a tempo de mudar as nossas vidas, de dar importância ao que realmente a merece, e de lutar pelos nossos ideais. Adorei! Recomendo sem hesitações. Afinal, é Isabel Allende.
Henri Roorda Snob - Colecção Baldio 2020 | 9786120009482 | 90 pp. Henri Roorda Van Eysinga (1870-1925), que também assinava Balthasar, foi, na sua vida de pacato cidadão suíço, professor de matemática. E porque além de ensinar gostava de escrever, não produziu apenas este derradeiro livrinho, que anuncia e explica o seu suicídio. Escreveu também ensaios sobre pedagogia e ainda teatro, poesia e diversos escritos de circunstância, a que ele próprio chamava “prosas de almanaque”. [...] “Dizem que o último a rir é quem ri melhor. Mas provavelmente é falso. O homem que for último a rir não vai rir quase nada. O seu riso leve será muito pouco ao lado do riso homérico das primeiras idades”. Pensamento extraído do seu ensaio “О riso e os que riem”. Última frase desse ensaio: “A minha avó tinha razão: não estamos cá na terra para nos divertirmos”. A 7 de Novembro de 1925 Roorda despede-se dos amigos no café, vai para casa, bebe meia…
Introspecção – A Mulher Canhota Sr Teste Edições 2021 | 489430/21 | 121 pp. Três textos que podem dar pistas para o caminho indefinível deste autor contra-corrente até ao receber o Nobel.
Irène Némirovsky Cavalo de Ferro 2021 | 9789895647033 | 192 pp. «Uma sucessora de Dostoiévski.» — The New York Times Jean-Luc Daguerne é um jovem ambicioso que, desprovido de tudo, sonha agarrar o mundo com as duas mãos. Mas a velha ordem que o rodeia está em colapso devido a uma crise sem precedentes: o dinheiro já não é seguro, o sucesso já não dimana apenas do trabalho. Para subir na vida, há que entrar nos meandros do poder e da política. Ao casar-se com Édith Sarlat, filha de um importante banqueiro, Daguerne parece finalmente conquistar as tão desejadas alegrias do sucesso e da ambição. Porém, depressa se emaranha numa teia de mentiras, vinganças e traições, e o que outrora parecia um belo sonho não é mais do que uma realidade sórdida e mesquinha que de predador acabará por transformá-lo em presa. Publicado em 1938, A Presa é um romance trágico, com ecos stendhalianos, que narra a ascensão e queda de um…
Fiódor Dostoievsky Relógio d`Àgua 2010 | 9789896411534 | 624 pp. Verkhovenski e Stavróguin são os líderes de uma célula revolucionária russa. O seu objectivo é derrubar o governo, destruir a sociedade e tomar o poder. Mas quando o grupo está prestes a ser descoberto uma questão se coloca. Estarão os seus elementos dispostos a matar-se uns aos outros para encobrir o seu rasto? O romance baseia-se, em parte, na história de um estudante assassinado pelos seus colegas revolucionários. Mas é também uma descrição da Rússia do século XIX e uma acusação contra os que usam a violência em nome dos seus princípios. Tolerado por Lenine, banido por Estaline, cujo regime parece ter antecipadamente previsto, Dostoievski só seria redescoberto na URSS a partir dos anos 60 do século XX. É que a extrema atenção com que o autor de Os Demónios seguia os acontecimentos da sua época permitiu-lhe prever os excessos e sofrimentos para que o seu país caminhava.
Muhammad Chukri Antigona. 2021 2021 | 9789726083849 | 208 pp. «Ergui a cabeça para o céu. É mais nu que a terra.» Quando a fome grassa no Rife, uma família parte para Tânger em busca de uma vida melhor. Nas noites passadas ao relento, nos becos da cidade, o pequeno Muhammad, orgulhoso e insolente, descobre a injustiça e a compaixão, a tirania da autoridade, a loucura labiríntica da miséria, o consolo das drogas, do sexo e do álcool. E é na prisão que um companheiro lhe desvenda as maravilhas da leitura, mudando para sempre a sua vida. Estreia do autor em Portugal, em tradução directa do árabe, «Verdadeiro documento do desespero humano» (Tennessee Williams), obra de culto proibida até recentemente nos países árabes por tocar em tabus da sociedade magrebina, este avassalador romance autobiográfico consagrou o autor e continua a iluminar o caminho de várias gerações de renegados marroquinos.
David Diop Relógio d`Água 2021 | 9789897831638 | 128 PP. Numa manhã da Primeira Guerra Mundial, o capitão Armand comanda o ataque contra o inimigo alemão. Os soldados avançam. Entre eles estão Alfa Ndiaye e Mademba Diop, dois atiradores senegaleses que combatem sob a bandeira francesa. Alguns metros à frente da trincheira de onde saiu, Mademba Diop cai ferido de morte sob o olhar de Alfa, seu amigo de infância e mais do que irmão. Alfa vê-se sozinho no meio do caos do grande massacre das trincheiras, e a sua mente é abalada. Ele, ainda há pouco um camponês africano, vai distribuir a morte numa terra desconhecida. Espalha a violência e semeia o terror, a ponto de amedrontar os próprios camaradas. Deslocado para a Retaguarda, recorda o seu passado em África, um mundo ao mesmo tempo perdido e ressuscitado, cuja evocação é, só por si, um ato de resistência à primeira grande carnificina da era moderna.
Jan Morris Tinta da China 2021 | 9789896716172 | 264 pp. Escreveu-o em 2001 e anunciou-o como aquilo que haveria de ser, apesar de só em 2020 termos perdido Jan Morris: o seu último livro de viagens. E logo dedicado a Trieste, cidade que, longe de ser a mais entusiasmante que esta intrépida viajante conheceu, foi aquela que a escritora viu como «uma descrição de mim própria». Uma cidade sempre à procura de si, sempre a reinventar-se, existencialista, pragmática, diversa e, apesar de existir sem grandes monumentos, bem resolvida e alegre, a que Jan Morris voltou várias vezes ao longo da sua vida, para só tardiamente reunir num único livro todas as impressões lhe ficaram. «Em certo sentido, Trieste é uma súmula de todas as viagens de Jan Morris: aqui, ‘sinto que este porto de mar opaco que povoa as minhas visões, tão cheio de doce melancolia, ilustra não somente as minhas emoções adolescentes do passado como também os meus interesses de…
Robert Walser Maldoror 2021 | 9789895311514 | 172 pp. Três contos de fadas tradicionais, e muito familiares, são o ponto de partida para a experiência subversiva de Robert Walser, que transporta as personagens do seu universo mágico para uma realidade ainda onírica mas mais consciente, aproveitando o percurso para explorar as diferentes tonalidades de conceitos como liberdade e felicidade.
Henri Michaux Maldoror 2021 | 9789895311507 | 240 pp. Num périplo pelo Oriente, Henri Michaux compõe um retrato aforístico da cultura, mas também da espiritualidade, dos povos asiáticos, num registo que oscila entre o poético e o realista, não deixando de observar também incoerências e excentricidades. «Cidade de cónegos e do seu amo, seu mestre em impudência e despreocupação, a vaca. Eles estabeleceram aliança com a vaca, mas a vaca não quer saber disso. A vaca e o macaco, os dois animais sagrados mais impudicos. Em Calcutá, há vacas por toda a parte. Atravessam as ruas, deitam-se ao comprido nos passeios inutilizando-os, largam a bosta diante do automóvel do vice-rei, passam revista aos armazéns, ameaçam o ascensor, instalam-se nos patamares, e se o hindu fosse pastável, sem dúvida que seria pastado.»
Joseph Andras Antígona - Editores Refractários 2021 | 9789726083917 | 168 pp. «De que são feitos os heróis? De que peles, de que ossos, de que carcaças, tendões, nervos, tecidos, de que carnes, de que almas são eles fabricados?» Argélia, 1956. Uma bomba que nunca viria a detonar é deixada numa fábrica, destinada a causar estragos e não a reclamar vidas, num acto simbólico. Um operário revolucionário e idealista, que sonha com um país livre e se opõe à violência cega, é denunciado. Detido e torturado, Fernand Iveton (1926-1957) seria o único pied-noir condenado e executado pelo Governo francês durante a Guerra da Argélia: um castigo que se pretendia exemplar e um aviso a todos os europeus que ousassem tomar o partido dos colonizados. França, onde Iveton conhecera o amor da bela Hélène, que o acompanharia até ao fim dos seus dias, silenciaria a voz do dissidente, mas nunca a esperança colectiva de uma futura nação. Dos Nossos Irmãos Feridos (2016), num estilo de tirar o…
Jack London Antígona - Editores Refractários 2021 | 9789726083801 | 112 pp. O mundo desabou, absoluta e irremediavelmente. Dez mil anos de cultura e civilização esvaíram-se num instante, desfizeram-se como espuma. «O grande mundo que conheci na minha infância e juventude desapareceu. Deixou de existir. Sou o último homem que estava vivo nos dias da peste e que conheceu as maravilhas daquela época longínqua. Nós, que dominámos o planeta — terra, mar e céu — e que éramos como deuses, agora vivemos na selvajaria primitiva.» 2013. Uma pandemia incontrolável — a morte vermelha, a praga escarlate — varre o planeta e faz ruir a civilização. O mundo colapsa e retrocede à barbárie: reina o medo, impera o isolamento, vagueiam saqueadores em cidades despovoadas. Sessenta anos depois, James Smith, o último sobrevivente dos dias da peste em São Francisco, narra aos netos incrédulos as histórias e memórias do seu tempo, enigmáticas para os pequenos selvagens de uma nova era. Ficção pós-apocalíptica tão breve…
Charles Dickens E-Primatur 2021 | 9789898872463 | 900 pp. O terceiro romance de Dickens baseia-se em factos verídicos e nas visitas que o autor fez a uma escola então dirigida por um dos directores mais cruéis do seu tempo. O pai de Nicholas Nickleby morre depois de perder todo o seu dinheiro num investimento que correu bastante mal. Nicholas, a mãe e a irmã são obrigados a deixar uma vida tranquila e confortável em Devonshire e a procurar a ajuda do tio do lado paterno, Ralph Nickleby, um homem de negócios rude e áspero, pouco interessado em ajudar parentes pobres, muito menos o jovem Nickleby, que lhe lembra precisamente o seu falecido irmão. Ainda assim, o tio arranja ao jovem um cargo mal pago como assistente do director de uma escola. Recém-chegado ao seu novo posto de trabalho, Nicholas descobre a crueldade tremenda do director e da sua mulher, que montaram em conjunto um esquema mirabolante para receber dinheiro dos pais que…
Maurice Blanchot E-Primatur 2021 | 9789898872661 | 120 pp. Obra maior da literatura francesa do século XX, «Thomas o Obscuro» é um cruzamento entre filosofia e literatura, bem como um dos livros mais desafiadores da modernidade. Em francês, como em português, existe uma vírgula a separar o nome do atributo como é o caso, por exemplo, de Alexandre, o Grande. Blanchot, escritor e intelectual admirado por alguns dos maiores escritores e filósofos do seu tempo e dos nossos dias, não colocou uma vírgula no título da sua obra. Publicado em 1941, Thomas o Obscuro foi reescrito e republicado em 1950. Para o Autor ambas as versões eram válidas, embora a mais tardia (aquela que se seguiu nesta tradução de Manuel de Freitas) se tenha tornado a versão canónica. Thomas é a personificação do conceito de neutro que Blanchot explorou na sua literatura. Diz-nos Thomas: «Eu penso, logo não sou.» Thomas não tem personalidade, é um ser neutro, uma humanidade desconstruída em peças soltas, e, como…
John Berger Antígona - Editores Refractários 2020 | 9789726083771 Nestas vinte e oito histórias, tão breves como envolventes, lembramos lugares, pessoas e encontros que deixaram uma impressão indelével em John Berger: Henri Cartier Bresson no metro de Paris, os gestos demorados de um estranho no café, uma travessia de ferry no Mediterrâneo, as palavras sussurradas por um prisioneiro, Barcelona a derreter ao sol de Verão - amigos e caminhantes com quem o autor se cruzou pelo mundo, pintando um fresco comovente da paisagem humana no fim do milénio. Imitando o fotógrafo com a sua câmara, John Berger segue, com palavras, «o impulso espontâneo de uma atenção visual perpétua, que capta o instante e a sua eternidade». Fotocópias (1996) - tiradas a algo que não nos pertence, a um original efémero ameaçado pela passagem do tempo, mas cuja imagem queremos conservar e recordar - captura com sensibilidade o que é fugaz, flashes ou revelações do trivial extraordinário, eternizando-os na página.
Esther Kinsky Bazarov 2021 | 9789895479283 | 352 pp. Carregado de pungência e filigrana poética, Rio é uma ode à observação, ao efémero e à memória. Neste romance, que confirma Esther Kinsky como uma das mais interessantes vozes da literatura germânica, a narradora relembra os rios que encontrou na sua vida — desde o Reno até um riacho em Telavive — ao longo de uma série de longas e solitárias caminhadas, desdobrando-se suavemente numa prosa hipnótica, precisa e límpida.
César Aira Bazarov 2020 | 9789895479269 | 144 pp. É o último dia do ano num prédio em construção em Buenos Aires. Nele, Os Fantasmas flutuam nus, são presenças estranhas e ao mesmo tempo naturais na estrutura oca, desabitada e inacabada. Aqui, tudo acontece como se nada tivesse acontecido, como se tivéssemos em mãos uma história lenta, onde as cuidadosas descrições de César Aira nos levam a outra história que só entendemos quando terminado o livro e começado um novo ano.
Gerald Murnane Bazarov 2020 | 9789895479245 Este romance é o retrato de famílias obcecadas com a terra e a herança, com a cultura e a mitologia, e de um homem que se aventura no seu mundo. As PLANÍCIES é um esboço de imaginação onde Gerald Murnane, considerado por muitos o maior escritor australiano da actualidade, convida não à leitura mas à meditação, uma fábula sobre o carácter mutável da vida que o leitor recordará não como algo que leu mas que possivelmente sonhou.
Vladimir Sorokin Bazarov 2020 | 9789895479221 | 192 pp. Numa odisseia distópica e sombriamente cómica, um médico da zona rural da Rússia, tenta desesperadamente chegar à vila de Dolgoye. A TEMPESTADE que se abate sobre o seu caminho transforma uma viagem que deveria levar poucas horas numa jornada metafísica, alegórica. Presos nesta tempestade existencial, os personagens de Vladimir Sorokin traçam caminho por uma paisagem caricaturada da Rússia contemporânea e cenários pós-apocalípticos.
Jesse Ball Bazarov 2020 | 9789895479207 | 240 pp. Sabendo que o seu tempo de vida é curto, um pai leva o filho numa viagem de duração indefinida por um país sem nome, da cidade A à cidade Z, aceitando levar a cabo um misterioso censo estatal. Os sentimentos um pelo outro são desafiados e reforçados à medida que entram e saem das casas de pessoas que desconhecem. Censo é uma história de discriminação e aceitação, bondade e arte, educação e amor, profundamente comovente, onde Jesse Ball brilha com sabedoria e graça.
Jean Chardin Livros de Bordo 2019 | 9789895455409 «Fui para a Ásia para me cultivar, e disso tenho feito o meu capital, sem nunca negligenciar o conhecimento dos países e das pessoas que visitava.» Jean Chardin, viajante-comerciante, por moto próprio, parte no final do ano 1677 para a Índia onde fica até 1680. Além do registo das vivências do dia a dia, Jean Chardin regista as propriedades, os métodos de uso e os preços das principais drogas e especiarias asiáticas, enquanto tece considerações sobre os seus usos e por que razões. Uma viagem cultural cheia de sabores e aromas que passa desde a gastronomia até à farmacopeia da Ásia.
Emilia Pardo Bazán Sistema Solar 2020 | 9789898833525 Uma insolente presença feminina nas letras espanholas do século XIX. Uma herdeira das lições do contista Guy de Maupassant. A condessa de Pardo Bazán foi uma incansável contista, lembrada muitas vezes como o Guy de Maupassant espanhol - de quem colheu, por certo, uma proveitosa lição oficinal. Não pelo estilo, que é exemplo forte de uma vocação castiça, mas pela «velocidade» e pela arte de saber transformar singelas anedotas da vida real em factos literários. O número dos seus contos ainda hoje não é dado como certo, e a sua biógrafa Eva Acosta chega a supor que, reunidos os ainda dispersos por jornais sul-americanos, poderão chegar a seiscentos. […] Hoje deixou de ser controversa. É considerada uma importante e singular figura das letras espanholas, a dominar a sua corrente realista e no fim da vida a temperá-la com diferenças sopradas pelo modernismo. E se a Corunha lhe fez um monumento vistoso no jardim de…
André Gide Sistema Solar 2020 | 9789898833549 | 152 pp. «Toda a verdade deixa de sê-lo, desde que haja mais do que uma pessoa a acreditar nela.» Uma das companhias preferidas de Oscar Wilde era lorde Alfred Douglas (que viria a ser Bosie na linguagem do seu afecto), rapaz de vinte e um anos, estudante no Magdalen College de Oxford com uma qualidade poética que os elogios de Wilde sobrevalorizavam, terceiro filho de um marquês grosseiro e brutamontes, de seu nome Queensberry. Wilde conheceu esse jovem na sua própria casa de Tite Street, apresentado por Lionel Johnson, um amigo que o trazia, encantado com uma recente leitura de Dorian Gray. «Depois de trocadas as habituais cortesias», veio Alfred Douglas a escrever, «Wilde mostrou-se muito amável e falou imenso. Antes de eu me retirar convidou-me para almoçar ou jantar com ele no seu clube — convite que aceitei.» Esta amizade intensificou-se. Wilde e Bosie começaram por fazer duas viagens juntos (uma a Florença,…
Garganta de aço - Contos completos I Mikhail Bulgakov E-Primatur 2020 | 9789898872388 | 432 pp. A faceta mal conhecida do grande clássico moderno russo. Entre nós Bulgakov é sobretudo conhecido pelo romance Margarida e o Mestre, uma vez que ao público português chegou apenas uma pequena parte de uma obra tão vasta quanto notável. A ficção curta de Bulgakov reflecte o espírito do seu tempo, bem como o país natal do escritor. No entanto, o registo destes contos, em grande parte inéditos em língua portuguesa, oscila entre as correntes de tradição clássica e as grandes vanguardas literárias internacionais. Nos dois volumes que irão reunir a ficção curta completa de Bulgakov, os contos serão apresentados por ordem cronológica de publicação, revelando assim ao leitor o próprio percurso literário que o autor trilhou. Estas breves narrativas são o retrato de uma Rússia envolta num turbilhão político e social, mas também numa febre de novas ideias e de escolas literárias ou artísticas. Os contos…
Eduardo Galeano Antígona - Editores Refractários 2021 | 9789726083177 | 288 pp. «Eu escrevo para aqueles que não me podem ler. Os de baixo, os que esperam há séculos na fila da história, os que não sabem ler ou não têm como.» Escrito no exílio e ilustrado pelo autor, O Livro dos Abraços reúne memórias e sonhos, fábulas que entrelaçam o real e o fantástico, crónicas indeléveis das trivialidades, das gentes e dos seus costumes, da política e dos seus mártires, do amor, da guerra e da paz. Fragmentos que celebram a diversidade, têm na memória do autor o seu fio condutor: «Recordar: do latim re-cordis, voltar a passar pelo coração.» Com uma extraordinária capacidade descritiva e um comovente pendor poético, escrevendo numa simplicidade desarmante, Eduardo Galeano dá voz aos amordaçados e estende um longo abraço aos resistentes – amaldiçoados pela economia, afugentados pela polícia, esquecidos pela cultura. O Livro dos Abraços é uma história alternativa da América Latina contada pelo mestre da narrativa breve, numa síntese…
Eduardo Galeano Antígona - Editores Refractários 2019 | 9789726083399 | 328 pp. O sistema que programa o computador que alarma o banqueiro que alerta o embaixador que janta com o general que adverte o presidente que intima o ministro que ameaça o director-geral que humilha o gerente que grita ao chefe que abusa do empregado que despreza o operário que maltrata a mulher que bate no filho que pontapeia o cão. Obra nascida da repressão no Uruguai, escrita durante o exílio do autor, Dias e Noites de Amor e de Guerra (1978, Prémio Casa de las Américas) é um poderoso testemunho do quotidiano em tempos de fascismo, da máquina do medo que silencia os povos e da coragem de quem recusou calar-se. Os contos e as crónicas de Eduardo Galeano são um espelho da sua própria vida: belos mas assombrosos, heterogéneos mas nunca dispersos, une-os a urgência da memória, a vontade de cristalizar os dias intermináveis e as noites em claro de quem, entre…
Albert Cossery Antígona - Editores Refractários 2020| 9789726083726 | 272 pp. «Quando os funcionários do Governo abriram as urnas, notaram que na maioria dos boletins de voto estava escrito o nome Bargute. Ora os ditos funcionários não conheciam tal nome, que não figurava na lista de nenhum partido. Inquietos, logo se puseram à cata de informações; e acabaram por saber, pasmados de todo, que Bargute era o nome dum burro por quem toda a gente da aldeia nutria muita estima, por via da sabedoria do animal. É claro, não foi eleito. Estás tu a ver, um burro de quatro patas! O que eles queriam, lá os do Governo, era um burro só de duas patas.» Mendigos e Altivos, romance de 1955, é considerado a obra--prima de Albert Cossery, e foi objecto de três adaptações: duas ao cinema e uma em banda desenhada. Mendigo por decisão própria, Gohar, ex-professor universitário de Literatura e Filosofia, conduz-nos, através das ruas do Cairo e das ciladas…
Stanislaw Lem Antígona - Editores Refractários 2021 | 9789726083962 | 272 pp. O Homem partiu em busca de outros mundos, de outras civilizações, sem conhecer inteiramente os seus próprios recantos, os seus becos sem saída e abismos, e sem saber o que está por detrás das suas portas negras. Em tradução directa do polaco, Solaris (1961) é uma das obras de ficção científica mais complexas e filosóficas, e consagraria Stanisław Lem (1926-2006) como autor de culto. Publicado em Varsóvia, em pleno regime comunista, e adaptado ao cinema por Andrei Tarkovski, em 1972, e Steven Soderbergh, em 2002, é dominado por um imenso e enigmático oceano planetário, capaz de controlar as emoções e as memórias de exploradores à beira da loucura, isolados numa estação espacial. Neste romance psicológico sobre a incomunicabilidade, a angústia face ao insondável e a incapacidade humana de lidar com o desconhecido sem causar destruição, Stanisław Lem leva-nos a um planeta distante para revelar os eternos abismos e buracos negros…
Victor Serge E-Primatur | 2020 Reinventar o mundo paga-se caro, muito caro. Inspirado, como quase todos os restantes livros do autor, na sua experiência de vida, Homens na Prisão é o relato do que aconteceu aos jovens que integravam os grupos anarquistas na França do começo do século XX. Serge, filho de expatriados russos a viver em França, fez parte desses grupos anarquistas, grupos de jovens cansados do mundo em que viviam com as suas hipocrisias e a sua corrupção. Jovens que sonhavam mudar o mundo. Serge foi preso e também sobre ele incidiu um sistema prisional decidido a vergar os homens às morais vigentes. Este romance é a história desses homens em luta contra um sistema. Anos mais tarde, Serge juntou-se aos bolcheviques e ao partido comunista. Também aí a sua vontade era mudar o mundo, também aí essa vontade lhe valeu a prisão. Este é o contexto do romance. O romance dos homens que acreditam no seu poder para transformar…
Ali Duaji E-Primatur 2020 | 9789898872272 | 136 pp. A mais importante novela (1935) de um dos grandes renovadores da moderna literatura árabe que antecipam, de certa forma, Kerouac ou Bukowski numa realidade completamente diferente. Inspirada numa viagem empreendida pelo grande escritor tunisino no ano de 1933, a novela que dá título a este volume relata a jornada do autor e dos seus companheiros por vários portos do Mediterrâneo. O percurso, feito maioritariamente de barco, mas também de camioneta em curtas excursões por terra, começa na travessia entre Tunes e a Córsega, e, segundo as palavras do autor, leva-o a deparar-se com «um tremendo sinal de interrogação que começa em França, passa por Itália, Grécia, Turquia e Levante, e cujo ponto é a cidade de Alexandria, a última e a mais importante desta nossa viagem». No entanto, o livro termina a narrativa deste périplo na cidade de Esmirna, na Turquia, não sendo claro por que razão o autor não quis avançar mais.…
Bernardine Evaristo Elsinore 2020 | 9789896232894 | 480 pp. Vencedor do Booker Prize 2019 Livro do Ano e Autor do Ano do British Book Awards 2020 As doze personagens centrais deste romance a várias vozes levam vidas muito diferentes: desde Amma, uma dramaturga cujo trabalho artístico frequentemente explora a sua identidade lésbica negra, à sua amiga de infância, Shirley, professora, exausta de décadas de trabalho nas escolas subfinanciadas de Londres; a Carole, uma das ex-alunas de Shirley, agora uma bem-sucedida gestora de fundos de investimento, ou a mãe desta, Bummi, uma empregada doméstica que se preocupa com o renegar das raízes africanas por parte da filha. Quase todas elas mulheres, negras e, de uma maneira ou de outra, resultado do legado do império colonial britânico. As suas histórias, a das suas famílias, amigos e amantes, compõem um retrato multifacetado e realista dos nossos dias, de uma sociedade multicultural que se confronta com a herança do seu passado e luta contra as contradições…
Beppe Finoglio Edições Saguão 2012 | 9789895483129 | 176 pp. «— Não percebes que dura há demasiado tempo? Que nos habituámos a morrer e as raparigas se habituaram a ver-nos mortos?» O romance Una questione privata foi publicado pela primeira vez em Abril de 1963, dois meses após o falecimento do autor, juntamente com Un giorno di fuoco, pela Garzanti. Embora a redacção do romance tenha começado em 1960 e continuado até finais de 1961 (conforme as testemunhas epistolares do próprio Fenoglio), a seguir a essa data não há mais referências directas do autor a esta obra, acabando por ficar inédita durante a sua vida. Sobre este romance Italo Calvino escreveu que: «O romance Uma questão privada é construído com a tensão geométrica de um romance de loucura amorosa e perseguição cavalheiresca como Orlando Furioso, e ao mesmo tempo é a Resistência tal como era, por dentro e por fora, verdadeira como jamais foi descrita, preservada durante tantos anos por memória fiel,…